Comissão parlamentar escocesa conclui que Sturgeon mentiu sobre caso Salmond

Comissão diz que é “difícil de acreditar” que a primeira-ministra da Escócia não tenha tido conhecimento do comportamento de Salmond, acusado e absolvido das acusações de assédio sexual.

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Nicola Sturgeon, primeira-ministra da Escócia e líder do SNP Robert Perry/EPA

Uma comissão do parlamento escocês que investigou como foram geridas as alegações de assédio sexual contra o antigo chefe do governo da região, Alex Salmond, confirmou esta terça-feira ter concluído que a sucessora, Nicola Sturgeon, “mentiu” durante as investigações.

O resultado do inquérito da comissão, composta por quatro membros do Partido Nacional Escocês (SNP) e cinco de partidos da oposição, já tinha sido alvo de uma fuga de informação na semana passada, o que levou Sturgeon a qualificar a conclusão de “partidária”.

Ao publicar oficialmente o documento nesta terça-feira, a comissão observa que Sturgeon “mentiu” ao parlamento quando testemunhou sobre uma reunião que teve com Salmond a 2 de Abril de 2018 na sua casa particular, em Glasgow.

A comissão considera que, nessa reunião, a primeira-ministra e líder do SNP deu a entender ao seu antecessor “que interviria se necessário” na investigação do governo sobre as acusações de assédio feitas por duas funcionárias, que Salmond nega.

A comissão parlamentar também afirma ser “difícil de acreditar” que Sturgeon não tivesse conhecimento do alegado comportamento impróprio de Salmond antes de Novembro de 2017 e refere que “se ela soubesse, deveria ter agido” e “se o sabia, então enganou a comissão.”

A comissão inclui quatro deputados do SNP, dois do Partido Conservador, um do Partido Trabalhista, um liberal-democrata e o independente Andy Wightman, tendo a oposição votado em bloco.

Os deputados do SNP, que são membros desta comissão, rejeitaram estas conclusões, que contrariam uma investigação independente do ex-procurador-geral da Irlanda, James Hamilton, publicada na véspera.

Hamilton concluiu que Sturgeon não violou as normas de conduta que regem o governo autónomo da Escócia (código ministerial) no tratamento das queixas contra Salmond.

O ex-promotor foi mandatado para investigar se Sturgeon havia tentado influenciar a investigação dessas alegações e se ela mentiu deliberadamente ao omitir uma reunião de 29 de Março de 2018 com Salmond, anterior à mencionada, de2 de abril.

Sturgeon considera que esta exoneração permite que continue na chefia do governo escocês, apesar de enfrentar uma moção de censura promovida pela oposição conservadora.

“Procurei em todas as fases deste problema agir com integridade e no interesse público. Como já deixei claro, não considerei que tivesse violado o código, mas estas conclusões são uma decisão oficial, definitiva e independente”, vincou.

A chefe do governo escocês, que tem uma minoria simples no parlamento autónomo, deve sobreviver a esta moção com o apoio dos seus aliados no Partido Verde.

Salmond foi absolvido de 13 crimes sexuais em 2020 e o governo escocês foi condenado a indemnizá-lo em 555 mil euros por não ter cumprido os procedimentos legais na investigação interna de duas dessas queixas.

Sondagens recentes indicam que a popularidade do SNP foi afectada, pondo em causa uma maioria absoluta nas eleições regionais de 6 de Maio e também o apoio a um segundo referendo à independência, que estava em crescimento.

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