China-EUA-Rússia: o que há de novo ou permanece o velho confronto?

Biden ao que parece quer fazer dos direitos humanos uma política que sirva para justificar sanções contra a Rússia e China e a corrida às armas e simultaneamente fechar os olhos a outras violações em muitos aspetos tão graves ou mais que as daqueles países.

O Presidente dos EUA, o país mais poderoso do mundo, tem obrigações no domínio do discurso político. As suas palavras têm um peso muito grande. Ecoam por todo o mundo. São lidas, relidas e analisadas até à exaustão. Biden, aliás candidatou-se também contra o discurso bruto de Trump.

Em termos diplomáticos chamar assassino a Putin, chefe de Estado de uma grande potência, é uma agressão verbal inaudita. Biden parece querer aprofundar o rumo do seu antecessor no relacionamento com a China e a Rússia, duas grandes potências militares, piscando o olho da simpatia à UE.

O relacionamento destas três potências é muito importante para a estabilidade mundial. E se é certo que hoje os problemas internos, nomeadamente no que diz respeito aos direitos humanos são questões que dizem respeito à comunidade internacional no sentido de que a sua defesa é universal, não deixa de ser verdade que esse importante elemento não deve ser usado como arma de arremesso político ao sabor das conveniências, até exatamente pela sua enorme importância.

Sendo o príncipe herdeiro saudita o autor moral do assassinato a sangue-frio do jornalista J. Khashoggi, Biden não chamou assassino a MBS. Nem o incomodou. Nem o referiu. Apesar da CIA o ter incriminado.

Esta polícia existe para derrubar regimes que os EUA não simpatizam, incluindo assassinar os seus dirigentes. E praticar assassinatos políticos do tipo “wanted dead or alive” como os perpetrados algures na Paquistão e na Síria contra Bin Laden e Califa do Estado Islâmico. Um criminoso prende-se, julga-se e condena-se. É elementar esta questão tanto na esfera do direito interno como internacional.

É duvidoso que Putin desconhecesse o envenenamento de Alexei Navalny, mas é seguro que o “Presidente” da Birmânia deu ordens para varrer multidões a tiro que se manifestam em defesa do regime democrático e das eleições realizadas. No entanto, Biden não apelidou o chefe do golpe de Estado de assassino.

São igualmente muito graves as violações dos direitos humanos no Dubai levadas a cabo pelo seu Emir, assim como na constelação dos países do Golfo, sem falar da brutal intervenção militar da Arábia Saudita no Iémen apoiada pelos EUA que já causou mais de cem mil mortes.

Os uigures e os habitantes de Hong Kong são perseguidos por discordarem da orientação política chinesa e estas violações dos mais elementares direitos humanos são graves e devem ser condenadas.

Acontece que os próprios EUA em termos de direitos humanos têm um rol extenso de violações não só contra a população de pele negra ou hispânica, como contra os migrantes que chegam à fronteira e que os enjaulam, incluindo crianças. Os crimes das forças policiais contra negros são constantes.

Se um chefe de Estado chamasse assassino a Biden o que sucederia? Quantas sanções?

É importante que os direitos humanos sejam respeitados em todo o mundo. Se forem arma de arremesso contra certos regimes e de complacência com outros com violações gravíssimas, o mundo não vai mudar em termos de respeito pelos direitos humanos.

Biden ao que parece quer fazer dos direitos humanos uma política que sirva para justificar sanções contra a Rússia e China e a corrida às armas e simultaneamente fechar os olhos a outras violações em muitos aspetos tão graves ou mais que as daqueles países. O caminho pelo respeito dos direitos humanos não é uma linha de conveniências; deve ser um eixo que leve à sua efetivação em todos os países e cantos do mundo.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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