Processo de ex-diplomata canadiano detido na China aconteceu à porta fechada

O julgamento de Michael Kovrig segue-se ao de Michael Spayor, dois canadianos acusados de espionagem pelas autoridades chinesas. O secretismo têm sido criticado e ensombra as relações diplomáticas entre a China, o Canadá e os EUA.

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O julgamento de Michael Kovrig esta segunda-feira ocorreu a portas fechadas. ROMAN PILIPEY/EPA

Michael Kovrig, ex-diplomata canadiano retido na China desde Dezembro de 2018 sob acusações de espionagem, esteve esta segunda-feira em tribunal, numa sessão que terminou com o anúncio de que será divulgada uma data para o veredicto. Diplomatas de 26 países que viram a entrada barrada reuniram-se à frente do tribunal em Pequim em protesto contra o secretismo do processo.

Já na sexta-feira passada se iniciara o processo do empresário Michael Spayor, detido na China juntamente com Kovrig pouco depois de a directora financeira (e filha do fundador) da Huawei, Meng Wangzhou, ter sido presa no Canadá a pedido dos EUA por suspeita de fraude.

Enquanto o Governo canadiano vê nas detenções dos dois “Michaels” uma reacção diplomática à prisão de Meng, que de momento se encontra sob fiança em Vancouver, Pequim defende ter sido uma mera “coincidência” temporal e nega haver uma ligação entre os casos.

Das poucas informações que as autoridades chinesas chegaram a divulgar sobre os processos, segundo o jornal canadiano National Post, sabe-se apenas que estes são acusados de terem colaborado no roubo de segredos do Estado que teriam sido transmitidos logo a seguir para o exterior.

“Michael [Kovrig] e Michael Spavor são canadianos inocentes apanhados numa grande disputa geopolítica “, disse à Reuters a esposa de Kovrig, Vina Nadjibulla. O Governo canadiano segue a mesma linha, desclassificando as acusações por considerar que a China está a praticar uma “diplomacia feita de reféns”.

Além disto, o facto de os julgamentos estarem a decorrer a portas fechadas ainda aumenta mais a revolta.

“Pedimos continuamente que nos dessem acesso à audiência de Michael Kovrig, mas o acesso está-nos a ser negado”, afirmou Jim Neckel, o encarregado de assuntos consulares na embaixada do Canadá na China e um dos 28 diplomatas de 26 países que marcaram presença à frente do tribunal em Pequim. “Agora vemos que o processo judicial em si não é transparente”, acrescentou, citado pelo The Guardian.

De acordo com a justiça chinesa, não está a ser admitido público nos julgamentos por se tratar de um assunto de “segurança nacional”, mas os diplomatas vêem nisto uma violação dos acordos de obrigação bilaterais e internacionais por parte da China.

Também o Presidente do Canadá, Justin Trudeau, condenou o secretismo que cobre os processos em conferência de imprensa na sexta-feira. Trudeau sublinha ainda que as detenções de Spavor e Kovrig são “arbitrárias” e “inaceitáveis”.

Os veredictos dos dois canadianos ainda estão em aberto, mas a taxa de condenação dos tribunais chineses é superior a 99%.

Trudeau deixa claro que “não se trata apenas de dois canadianos, trata-se do respeito pelo Estado de direito" e são as “relações com vários países ocidentais que estão em jogo por se terem envolvido em detenções arbitrárias e numa diplomacia coerciva”. O tema esteve também entre as várias acusações entrecruzadas que se levantaram no primeiro encontro diplomático entre os EUA e a China desde a tomada de posse de Joe Biden, sexta-feira no Alasca. 

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