Campo de golfe na Portela pode poluir captação de água em Coimbra, avisa CDU

Autarquia está a limpar terrenos na beira-rio. Presidente diz que é cedo para falar em campo de golfe.

Foto
Rui Gaudencio

A instalação de um campo de golfe na margem direita do rio Mondego, perto da Portela, em Coimbra, pode pôr em risco a captação de água que abastece a cidade, avisa o vereador da CDU, Francisco Queirós.

Na reunião de executivo da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), que decorreu nesta segunda-feira, Francisco Queirós advertiu que num campo de golfe, “além de um grande consumo de água”, é utilizado fertilizante, o que pode afectar a captação de água do Mondego na estação da Boavista, uns metros a jusante de um terreno que a autarquia está a limpar.

O assunto veio à tona através do Notícias de Coimbra, no início do mês. Enquanto a autarquia ia retirando a vegetação da beira-rio, o jornal online dava conta da potencial instalação de um campo de golfe, mas não revelava fontes.

Nesta questão, há pelo menos dois factos que todos reconhecem: a autarquia está a intervir num terreno perto da Ponte da Portela, retirando grande parte do coberto vegetal. Esse mesmo terreno tem sido apontado como localização possível para um campo de golfe em Coimbra.

Na reunião de câmara, dois membros do executivo socialista deram sinais diferentes. O presidente, Manuel Machado, pôs um travão na ideia e diz que é prematuro falar da instalação de um campo de golfe ali. O seu vice-presidente, Carlos Cidade, que tem o pelouro do urbanismo, disse que “não é novidade nenhuma”.

No final do encontro, o presidente disse que a câmara está a proceder a uma “limpeza de terrenos”, sem mais, embora acrescente que “decorrem estudos”. “Se houver interessados num campo de golfe e se ele for viável naquela localização”, então, poderá avançar. Mas, para já, ainda não está nesse ponto. O PÚBLICO perguntou se deu entrada algum pedido de informação prévio sobre aquela área. “Que eu saiba, não”, respondeu Machado. O autarca subscreveu também as palavras do vereador comunista. “É necessário avaliar com muito cuidado [uma eventual instalação], porque fica a montante da zona de protecção e de captação da estação da Boavista, que não pode ser posta em causa”, entende.

À viabilidade, o autarca junta a vontade da Federação Portuguesa de Golfe. E a federação já disse se estava interessada? “Não creio que já tenha chegado a isso”, responde Manuel Machado, “ainda é prematuro”, acrescenta. A FPG, por sua vez, diz que “mantém contactos com vários municípios no âmbito da construção de instalações desportivas de golfe, sendo uma delas” a de Coimbra, “em conjunto com o Quinta das Lágrimas Clube de Golfe”. No entanto, sublinha a FPG, as reuniões com a câmara foram “meramente exploratórias” não havendo “pormenores relevantes a comunicar”.

“Não é novidade nenhuma”

Durante a reunião, o tom usado pelo vice-presidente, Carlos Cidade, que tem a pasta do urbanismo, foi diferente: “Relativamente à sua localização [de um campo de golfe], não é novidade nenhuma”, respondeu. “Eu estou espantado é de estarem agora a colocar essa questão. Se bem me recordo, há mais de 20-25 anos que se fala na localização de um campo de golfe naquela zona”, disse.

Referiu também que olhava para a FPG como “interlocutora privilegiada” neste processo de “possibilidade de se concretizar um campo de golfe, que é uma aspiração de décadas de muitos conimbricenses”, notou, acrescentando que esse desígnio estava inscrito no programa com que o PS concorreu às autárquicas em Coimbra.

O PÚBLICO enviou um conjunto de questões à Agência Portuguesa do Ambiente (APA), que não respondeu. No entanto, o vereador do Somos Coimbra, José Manuel Silva, disse ao PÚBLICO que se reuniu, na semana passada, com responsáveis da APA. O Somos Coimbra perguntou se a agência tinha conhecimento da intervenção e a resposta terá sido negativa. O movimento também procurou saber se a câmara precisaria ou não de um parecer para intervir naquele terreno, “mas essa dúvida ficou no ar”, garante José Manuel Silva.

O vereador, que foi já anunciado por Rui Rio como sendo a cara do PSD para concorrer à autarquia nas próximas eleições, concorda que Coimbra necessita de um campo de golfe, mas que, “no mínimo, haja um estudo de impacte ambiental e uma análise de risco-benefício à sua localização”.

A operação que a CMC fez, diz Manuel Machado, foi uma limpeza de terreno. Por isso, não necessitava de luz verde da APA. “É uma obrigação da câmara [a limpeza de terrenos ribeirinhos]”, refere. “Não tem que pedir [autorização]. Comunica e tem de avançar. O que é inadequado é aquilo estar a ser usado para depositar pneus e outros subprodutos dos humanos”, sintetiza. 

Sugerir correcção
Ler 2 comentários