Ralph Lauren quer reduzir desperdício de água com novo processo de tingimento

A Chanel apostou numa empresa de seda ecologicamente correcta e a Hermes começou a vender malas feitas de couro de cogumelo cultivado em laboratório.

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A marca norte-americana de luxo viu as suas vendas cair com a pandemia Reuters/Brendan McDermid

A Ralph Lauren quer reduzir drasticamente o desperdício de água, para isso, vai alterar a maneira como tinge as roupas. A empresa planeia iniciar o novo método com o objectivo de abranger 80% dos seus produtos de algodão até 2025 — uma grande aposta para uma marca que vende milhões de pólos, T-shirts e calças de ganga, anualmente.

A primeira fase, que reduz em 40% o uso de água, envolve um tratamento têxtil desenvolvido pela Dow Inc.. O processo permite que o material absorva a cor mais facilmente com os equipamentos existentes, diminuindo o uso de água e de energia eléctrica. As próximas fases incluirão novas máquinas e tecnologia de mistura de cores. É parte de um projecto chamado Color on Demand, que é um esforço conjunto entre a Ralph Lauren, Dow Inc. e a Huntsman Corp., outra fabricante de produtos químicos. Participam também duas empresas fabricantes de equipamentos para a indústria têxtil, Corob e Jeanologia. Os produtos fabricados com o novo sistema chegarão às prateleiras ainda este ano.

“Eventualmente, isso será aplicável em toda a nossa gama”, declara Patrice Louvet, CEO da Ralph Lauren em entrevista à Bloomberg.

Os retalhistas de moda estão a investir fortemente com o objectivo de diminuir o impacto ambiental da indústria têxtil. De acordo com as Nações Unidas, a manufactura de roupas produz até 10% das emissões globais de carbono e 20% das águas residuais do mundo.

A Hennes & Mauritz AB investiu numa start-up de reciclagem de polímero e a Lululemon Athletica Inc. numa empresa de couro vegano. Enquanto isso, a Chanel apostou numa empresa de seda ecologicamente correcta e a Hermes começou a vender malas feitas de couro de cogumelo cultivado em laboratório.

Os executivos da Ralph Lauren recusam-se a revelar quanto está a empresa a gastar neste projecto. Faz parte de uma gama mais ampla de iniciativas de sustentabilidade. Em Agosto, a Ralph Lauren anunciou a compra de uma participação minoritária na Natural Fiber Welding Inc., especializada na reutilização de resíduos de algodão. A empresa declarou que ajudaria a dimensionar o processo patenteado da Natural Fiber Welding para usar mais algodão reciclado. E no início deste mês, iniciou um negócio de aluguer por assinatura para suas roupas, o que pode permitir à empresa gerar receita enquanto fabrica menos peças.

Ultimamente, a marca tem sentido dificuldades por causa da pandemia. No último trimestre, divulgou resultados abaixo do esperado devido à queda do turismo nos EUA e na Europa. As vendas globais nas lojas, ajustadas para variações cambiais, caíram 21%. Portanto, atrair consumidores mais jovens que se preocupam com o meio ambiente é uma prioridade para a empresa.

Por isso, há cerca de cinco anos que começou a procurar maneiras de melhorar o processo de tingimento de roupas com uso intensivo de água, diz Halide Alagoz, director de produto e sustentabilidade da Ralph Lauren. A marca norte-americana optou por se concentrar no algodão porque este representa mais de 80% de todos os produtos que a empresa vende, explica. A longo prazo, após a implementação completa, o sistema não aumentará os custos de produção. Programas-piloto já estão a decorrer em fábricas que são fornecedoras nos EUA, Guatemala e Vietname.

Há outro benefício: o novo sistema pode reduzir o tempo que a Ralph Lauren leva para fabricar e despachar os seus artigos. Actualmente, a empresa decide as cores com seis meses de antecedência, após o que os produtos são tingidos antes de serem enviados para as lojas. Este novo processo, permite que a marca mantenha um stock principal de pólos brancos, camisolas de malha e calças de ganga, que podem ser tingidas apenas um mês antes do lançamento nas lojas. “Estamos a investigar como isso nos ajudará a fazer apostas melhores e mais inteligentes em cores e estoque”, conclui Alagoz.

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