A crise da Juventus que faz antever o fim de um longo ciclo em Itália

Equipa de Cristiano Ronaldo foi derrotada em casa pelo modesto Benevento e hipotecou a possibilidade de alcançar um inédito 10.º título consecutivo.

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Cristiano Ronaldo incrédulo com mais um desaire da Juventus Reuters/MASSIMO PINCA

Uma derrota caseira com o modesto Benevento, por 1-0, terá retirado, este domingo, à Juventus qualquer possibilidade realista de lutar por um inédito 10.º título consecutivo no campeonato italiano. São agora dez os pontos que separam o conjunto do português Cristiano Ronaldo do líder, Inter de Milão, numa temporada que irá encerrar um ciclo glorioso do gigante de Turim.

Logo após o apito final da partida com o Benevento, relativa à 27.ª jornada, iniciou-se uma caça às bruxas na imprensa italiana. Um inquérito online lançado pelo jornal Gazzetta dello Sport dava o mote: “Crise na Juve, de quem é a culpa? De Pirlo [treinador], da sociedade [desportiva que gere o futebol do clube], dos jogadores?” Ao início da noite, com mais de 18 mil votantes, a administração liderava, destacada, o descontentamento dos adeptos, com mais de 63,2% dos votos, seguindo-se Pirlo, com 23,2%. Mais poupados foram os futebolistas, com 13,6% das preferências.

O artigo sobre a crise, ilustrado com uma fotografia de um Cristiano Ronaldo desalentado e prostrado no relvado, era elucidativo. “Fora da Champions e a -10 do título no início da Primavera pela primeira vez na última década.” O jornal prosseguia com factos inquestionáveis e pouco abonatórios, principalmente para Andrea Pirlo e para os responsáveis pelo futebol.

Lembrava que, na temporada passada, com Maurizio Sarri (actualmente sem clube) no comando, a Juventus liderava a prova nesta altura, com mais 11 pontos do que os actuais 55. E dois anos antes, com o banco ocupado por Massimiliano Allegri (igualmente sem clube e que conquistou quatro campeonatos seguidos em Turim), somava mais 20 pontos.

Na realidade, na última década, a equipa só não comandou a Série A nesta fase da temporada em 2011-12, quando iniciou o ciclo de nove títulos. Tinha até menos dois pontos do que actualmente, mas a diferença para o líder na altura, o AC Milan, era de apenas quatro pontos. No final, venceria com quatro pontos de avanço.

A eliminação nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões frente ao FC Porto também não foi esquecida. Pela segunda vez consecutiva, a “vecchia signora” caiu nos oitavos-de-final frente a um adversário com muito menos argumentos, pelo menos financeiros. No ano anterior, os carrascos tinham sido os franceses do Lyon.

O desaire frente ao Benevento nasceu de um enorme erro do médio brasileiro Arthur, que fez um passe errado para o adversário Adolfo Gaich em zona de finalização. O avançado argentino não se fez rogado e com um potente remate apontou o único golo da partida, aos 69 minutos. A Juventus ficou em branco, apesar de Pirlo ter escalado um conjunto vocacionado para o ataque. A apatia geral contagiou Ronaldo, que ainda teve algumas oportunidades, mas não conseguiu inverter a maré.

“Temos o melhor do mundo”

Muito acossado pela crítica após o jogo com os “dragões”, o internacional português foi desta vez protegido pelos responsáveis do futebol do clube. “Somos a Juve, temos Cristiano Ronaldo, o melhor jogador do mundo, e queremos mantê-lo”, garantiu Fabio Paratici, director desportivo, no final da partida, em declarações à televisão Sky. “Um jogo não vai mudar as nossas ideias ou a nossa estratégia”, reforçou.

Antes do início do jogo, Ronaldo recebera das mãos de Andrea Agnelli, presidente da Juventus, uma camisola do clube comemorativa dos 770 golos apontados ao longo da carreira. A mesma tinha a inscrição “GOAT” (“Greatest Of All Time” ou “o melhor de sempre”, na tradução em português), no lugar habitual do nome do jogador.

Numa altura em que se fala na possível saída do jogador madeirense – com o PSG ou um regresso ao Real Madrid a surgirem como fortes possibilidades –, todos os mimos são poucos.

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