Uma apicultora viral no TikTok está a receber muito... buzzzz

Erika Thompson, uma apicultora da zona de Austin, acumulou uma enorme quantidade de seguidores na rede social ao documentar o seu trabalho de remoção ética de abelhas. “As abelhas precisam de defensores”, diz. “E estou tão contente por fazer isto por elas”.

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Amanda Jewell Saunders

As abelhas pingam da mão desprotegida de Erika Thompson, como se a apicultora estivesse a segurar uma bola de gelado derretido. Mas ela não parece preocupada. Basta um simples movimento do pulso e os insectos gentis apressam-se a entrar na sua nova casa.

Esta imagem é de um TikTok recente de Thompson, uma apicultora da zona de Austin, nos Estados Unidos, que acumulou uma enorme quantidade de seguidores na rede social ao documentar o seu trabalho de remoção ética de abelhas. Neste vídeo em particular, a norte-americana explica que lhe foi pedido para remover em segurança uma colónia de abelhas que viviam num barracão num jardim há dois anos. A certa altura, levanta uma parte do chão de madeira para expor centenas de abelhas que rastejam umas em cima das outras. Um sorriso de satisfação espalha-se pelo seu rosto.

E, como uma mosca atrás de mel, os telespectadores afluíram ao TikTok. Já foi visto mais de 60 milhões de vezes. “Adoro ver a Beyoncé a interagir com os seus fãs”, brincou um utilizador nos comentários. “Como é que não é picada?”, perguntam dezenas de outras pessoas.

@texasbeeworks

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? original sound - Erika Thompson

Na realidade, Thompson simplesmente adora abelhas. Adora-as de verdade. O quintal da jovem de 35 anos está repleto de cerca de 50 colmeias. Ela assina os seus e-mails com “bee well” ("abelha bem”, um trocadilho que resulta melhor em inglês).

Erika não esperava que tanta gente adorasse os seus vídeos. No TikTok, terra dos vídeos de cachorrinhos, danças virais e dicas de comida, o conteúdo de Thompson tornou-se incrivelmente popular. Os espectadores não conseguem desviar o olhar, encolher-se de medo, ou alguma combinação de ambos — e ficam surpreendidos por Thompson não se sentir minimamente perturbada.

Quando era pequena, Thompson admirava tanto Jane Goodall e Dian Fossey que fingia ser as ecologistas, com binóculos pendurados à volta do pescoço e brincando com os animais de peluche como se fossem criaturas na natureza. Depois, saía para o mundo exterior. “Passei muito tempo no meu quintal, noites e fins-de-semana, a tentar apanhar insectos e a pô-los em frascos... para os guardar e cuidar deles”, diz. “É algo que me acompanhou toda a minha vida.”

Há cerca de uma década, foi a uma aula de apicultura por curiosidade. A licenciada da Universidade do Texas não esperava que o passatempo se tornasse o seu emprego. Trabalhava como directora de comunicação numa organização sem fins lucrativos e nem sequer sabia se podia ter abelhas na sua casa no centro de Austin. Mas deu por si a aprender cada vez mais sobre abelhas e acabou por ter a sua primeira colmeia.

@texasbeeworks

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? I Still Haven't Found What I'm Looking for - Magic Wind Singers

Pouco depois, lançou o Texas Beeworks, e passava noites, fins-de-semana e até alguns intervalos para almoço a ajudar outros a guardarem abelhas e a conduzir com colmeias na parte de trás da sua carrinha. Há dois anos, começou a fazê-lo a tempo inteiro e sente-se “a pessoa mais sortuda do mundo”. “Nada se compara a ir entrar numa colmeia selvagem de abelhas e não saber o que se vai encontrar. Tiras a capa e ficas a conhecer as abelhas”, comenta. “É extraordinário poder ver o que as abelhas construíram sem qualquer intervenção ou interferência humana”.

Thompson começou a fazer os vídeos para documentar o seu processo para clientes que, sem surpresas, normalmente escolhem estar ausentes durante uma remoção. No ano passado, quando a pandemia começou, várias oportunidades que estavam alinhadas foram por água abaixo. Com um pouco mais de tempo em mãos, criou uma conta no TikTok.

Mesmo com a sua adoração pelas abelhas, nunca esperou conseguir quase quatro milhões de seguidores na aplicação ou produzir uma série de vídeos virais. Afinal de contas, ser apicultora não é a profissão mais comum.

“A maior parte das vezes, quando digo às pessoas que sou apicultora, elas respondem: ‘Ó, tu és apicultora?’”, ri-se. “Não sei o que cativou realmente as pessoas, porque, para mim, é tão normal. Talvez seja por verem algo que nunca viram antes e que não sabiam que era possível”.

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Teresa Pacheco Miranda

Além disso, há muito para admirar nas abelhas, acrescentou, “desde a forma como trabalham juntas como um super-organismo e nenhuma pensa em si própria como um indivíduo, mas faz tudo para o bem da colónia, até à forma como constroem a colmeia e criam as suas crias”.

Os vídeos exploram um fascínio pelas abelhas que os humanos cultivam desde os tempos antigos, quando o mel era uma das poucas formas abundantes e acessíveis de doçura natural. Quando começámos a estudar os animais sociais, correcta ou incorrectamente, “as pessoas viram as suas próprias sociedades espelhadas na vida das abelhas”, afirma May Berenbaum, chefe do departamento de entomologia da Universidade de Illinois. “Há esta percepção alegórica das abelhas como sendo mais parecidas com os seres humanos do que a maioria dos insectos.” Basta olhar para Henrique V, no qual Shakespeare compara um reino bem gerido a uma colmeia.

Claro que algumas abelhas picam, o que naturalmente lhes deu uma má reputação, apesar de ser em legítima defesa. O termo “abelha assassina” certamente não ajudou em nada. Foi usado para descrever uma estirpe de abelhas particularmente defensiva que escapou à quarentena no Brasil nos anos 50 e se espalhou pelo mundo, apesar de não serem particularmente mais mortíferas. Hollywood agarrou-se à ideia de abelhas maléficas em filmes como O Enxame e Candyman - em parte porque “é fácil manipulá-las”, disse Berenbaum. “Elas respondem a todo o tipo de sinais, a sinais leves, a sinais químicos, para que se possa controlá-las no cenário.”

Tais sinais culturais fizeram às abelhas o que Jaws fizeram aos tubarões: criaram um medo exagerado. Mas as mentalidades mudaram por volta de 2006, quando relatos de colapsos das colónias - quando a maioria das abelhas operárias desaparece de uma colmeia, deixando a rainha para trás - começaram a circular e as pessoas leigas começaram a compreender a importância inerente dos insectos.

Esta mistura de profunda admiração, medo saudável e compaixão pode ser uma das razões pelas quais não conseguimos parar de ver os vídeos de Thompson.

Embora não esperasse que os seus vídeos se tornassem tão populares, Thompson espera que eles possam ajudar a continuar a mudar a nossa atitude, corrigindo a concepção errada sobre as abelhas, sendo talvez a maior delas que “todos os tipos querem picar-te o tempo todo”.

Existem mais de 20 mil espécies de abelhas, todas elas com temperamentos diferentes. Além disso, Thompson acrescenta: “A maioria das abelhas, e a maioria das abelhas melíferas, são dóceis e não querem picar-vos”.

Erika também espera que os seus vídeos inspirem alguém que deseje remover uma colónia da sua propriedade a chamar um apicultor profissional, em vez de um exterminador. Matá-las simplesmente não só irá danificar uma parte vital do ecossistema, como também deixará para trás a colmeia e o seu mel - o que pode causar danos estruturais e pode atrair criaturas aleatórias, incluindo outra colónia de abelhas.

“As abelhas precisam de defensores”, resume. “E estou tão contente por fazer isto por elas”.

Exclusivo PÚBLICO/ The Washington Post

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