Itália exige reflexão após adeus à Champions

Dos quatro participantes italianos na actual edição, já não resta um único em prova. Eliminação da Juventus, às mãos do FC Porto, agudizou preocupações num país que não ganha o troféu desde 2010.

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Reuters/MASSIMO PINCA

Enquanto os maiores predadores das principais Ligas europeias verão com bons olhos a possibilidade de se cruzarem com o FC Porto no sorteio de Nyon, que hoje define o quadro competitivo dos quartos-de-final da Liga dos Campeões (ver caixa), em Itália aumenta a histeria em torno do fracasso de Inter, Lazio, Atalanta e, em particular, da Juventus. Arredados da prova pelo campeão português, os “bianconeri” acentuam a ideia de um país a perder cada vez mais influência entre a elite do futebol continental.

A quinta presença do FC Porto nos quartos-de-final da prova milionária desde 2000 foi um autêntico choque anafilático para uma Itália que exige uma profunda reflexão, de forma a tentar perceber se, como disse Antonio Cassano no rescaldo da eliminação dos eneacampeões transalpinos, o calcio parou realmente no tempo… há já duas décadas

Objectivamente, tomando como ponto de partida o início do século, Itália celebrou três títulos europeus na Champions, dois com o AC Milan (2003 e 2007) e o último com o Inter Milão, de José Mourinho, em 2010. Comparando com os 20 anos anteriores, em que o calcio chegou por cinco vezes ao topo do futebol europeu, com três troféus para o AC Milan e dois para a Juventus, a diferença não pode ser considerada abissal.

De facto, o problema reside, em grande medida, na última década, período em que a formação de Turim perdeu duas finais (2015 e 2017) e esteve por mais três ocasiões entre as oito melhores equipas da competição. Agora, depois de na época anterior ter sido surpreendida pelo Lyon (quando tudo parecia indicar que Cristiano Ronaldo poderia ser o talismã que faltou noutros momentos), a história repetiu-se e a Juventus, que venceu pela última vez em 1996, sentiu o golpe com maior impacto, não só em função da obsessão e do investimento feito, como da “decadente” carreira doméstica.

Apesar do desalento natural dos amantes do futebol italiano, Lazio e Atalanta (que há um ano esteve perto de tocar o céu das meias-finais) teriam sempre um caudal de expectativas mais modesto. E mediram forças com adversários de calibre superior. A Lazio enfrentou o campeão em título e campeão do mundo Bayern Munique (18 vitórias nas últimas 19 partidas da Champions); à Atalanta coube em sorte um Real Madrid que, depois do falhanço de há um ano, em que caiu nos “oitavos”, regressa para reclamar o 14.º triunfo na prova que lhe valeu quatro conquistas entre 2014 e 2018.

A verdade é que a ausência de um representante transalpino no G8 já não se verificava desde a edição de 2015-16, cuja final “espanhola” foi arrebatada pelo Real Madrid de Cristiano Ronaldo… em San Siro, com Roma e Juventus a caírem nos “oitavos”. E não foi a única vez desde a tal vitória do Inter, em 2010, verificando-se a outra lacuna da década em 2013-14, desta feita com o AC Milan a ser afastado nos “oitavos” pelo finalista vencido da Luz, Atlético de Madrid.

Um registo recente preocupante, agudizado pelo facto de o actual líder destacado da Série A, o Inter Milão, não ter sequer sobrevivido à fase de grupos da presente edição da Champions — ficou em último lugar no Grupo B, atrás de Real Madrid, Borussia Mönchengladbach e Shakhtar Donetsk, com uma única vitória.

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