Açores dão passo atrás: escolas em São Miguel encerradas a partir de segunda-feira

Estirpe inglesa provocou um aumento do número de casos na maior ilha açoriana. Para já, a situação está controlada, mas é motivo de “preocupação”.

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Escola em Rabo de Peixe, Açores LUSA/EDUARDO COSTA

Durante o período crítico da terceira vaga da pandemia da covid-19, os Açores estavam em contraciclo com o país: no continente a pandemia estava descontrolada e a situação era dramática, enquanto no arquipélago açoriano o número de casos diminuía e a vida normal era retomada progressivamente.

Agora, os Açores continuam em contraciclo com o continente – mas os papéis inverteram-se. Numa altura em que o desconfinamento é mote para as próximas semanas no território nacional, no arquipélago açoriano foram anunciadas novas restrições esta quinta-feira. Entre elas, o encerramento de todas as escolas e a adopção do ensino virtual em toda a ilha de São Miguel, a mais populosa dos Açores.

“Foi decidido que todos os estabelecimentos de ensino da ilha de São Miguel ficam em regime de ensino à distância na próxima semana”, começou por dizer o secretário regional da Saúde, Clélio Meneses, na conferência semanal de acompanhamento da situação epidemiológica na região, justificando a decisão com quatro razões.

A primeira é a propagação da estirpe inglesa no arquipélago. Dos 114 casos em São Miguel, 96 são da nova estirpe, que, alegou Clélio Meneses, tem um “elevado grau de transmissibilidade nas faixas mais jovens”. Depois, existe um número “muito significativo” de alunos que residem em concelhos onde o risco de propagação é muito baixo, mas que estudam em concelhos onde o grau de contágio é elevado.

A terceira justificação foi o aproximar das férias da Páscoa, que implica que, na prática, as escolas só encerrem por uma semana. As medidas serão reavaliadas após a Páscoa. A última razão prende-se com o aumento do número de casos de covid-19 na região. 

“É preciso termos a noção que partimos na última semana com zero internamentos nos Açores. Neste momento temos sete internamentos no Hospital Divino Espírito Santo [em Ponta Delgada, São Miguel]. O que quer dizer que temos claros e evidentes sinais de alerta que têm de ser tidos em conta”.

Situação controlada, mas preocupação em São Miguel

Há quinze dias os Açores tinham 79 casos activos no arquipélago, sendo 67 em São Miguel, nove no Pico e três na Terceira. Antes, a 26 de Fevereiro, eram 56 os casos positivos, 47 dos quais em São Miguel.

Actualmente, a região regista 115 casos positivos: 114 em São Miguel e outro na Terceira. Um aumento consecutivo do número de casos, mas que não significa que a pandemia esteja descontrolada, defendeu Gustavo Tato Borges, coordenador da comissão de combate à pandemia no arquipélago. Para tal, apresentou a média de casos diários: nos últimos 14 dias a média foi de 9,1, um número inferior à média de 11 casos por dia registada na região desde o início da pandemia.

Mas se o arquipélago esteve em contraciclo com o país no início do ano, também internamente as situações se inverteram. Quase todos concelhos açorianos estão classificados como de muito baixo risco de contágio, incluindo o da Ribeira Grande, que, durante meses, foi o único onde a pandemia esteve descontrolada, levando, até, à imposição de um cordão sanitário na freguesia de Rabo de Peixe.

Ultrapassada a situação daquela vila piscatória, em São Miguel existe agora um concelho de baixo risco, Povoação, um de médio risco, Ponta Delgada e um de elevado risco, o da Lagoa. As medidas de controlo da pandemia são aplicadas por concelho e diferem conforme o grau de risco, avaliado no número de casos por 100 mil habitantes.

 Assim, em Ponta Delgada (que regista 51 casos), os bares e restaurantes vão encerrar às 20h, existe a limitação de ajuntamento na via pública até seis pessoas, estão proibidas as visitas aos lares de idosos e está suspensa a presença de público nos eventos desportivos e culturais – tal como já tinha sido anunciado a propósito do jogo Santa Clara – Tondela.

Na Lagoa, o concelho com 22 infectados, os bares e cafés vão encerrar às 15h (podendo funcionar em take-away a partir daí) e vai vigorar o recolher obrigatório das 20h às 05 durante a semana e das 15h às 05h ao fim-de-semana. Na Lagoa, todo o comércio vai encerrar às 20h e estarão encerrados os ginásios e piscinas. “Temos um epicentro, um foco de atenção e da nossa preocupação nos Açores que é a situação de São Miguel”, assinalou Tato Borges.

Desde o início da pandemia foram diagnosticados 4040 casos de covid-19 no arquipélago e 29 pessoas faleceram com a infecção pelo novo coronavírus.

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