Organizações acusam Cimeira Contra o Racismo de não ser “segura para pessoas racializadas”

As organizações acusam a Cimeira de falta de inclusividade nos painéis e oradores, cuja agenda “não é um espaço seguro para especialistas, oradores e participantes racializados”.

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Movimento Black Lives Matter em 2020 STRINGER

Mais de 40 organizações da sociedade civil da Europa assinaram esta quinta-feira uma declaração conjunta na qual acusam a Cimeira Europeia Contra o Racismo de não ser “um espaço seguro para pessoas racializadas” por falta de inclusividade.

Em comunicado, as organizações manifestam a sua “profunda preocupação em relação às acções da liderança política da Comissão Europeia e dos serviços envolvidos na organização da Cimeira Europeia Contra o Racismo”, agendada para sexta-feira e que é co-organizada pela presidência portuguesa do Conselho da União Europeia (UE).

A Comissão Europeia “deveria ter-se envolvido de forma mais significativa com a sociedade civil anti-racismo, enquanto principal especialista nas estruturas e manifestações de racismo”, acusam as organizações, lamentando que as suas preocupações em relação aos painéis e oradores da Cimeira não tenham sido “levadas mais a sério” pela organização. “A agenda da Cimeira, tal como está, não é um espaço seguro para especialistas, oradores e participantes racializados”, sublinha a mesma nota.

As 44 organizações que assinaram a declaração dizem-se ainda “especialmente desiludidas” com o facto de a Comissão Europeia “não dar espaço para que alguns grupos se pronunciem na Cimeira”. “Acreditamos que todos os grupos afectados pelo racismo e organizações representativas deveriam ter sido incluídos em pé de igualdade”, sublinham.

Por outro lado, as organizações criticam o executivo comunitário por ter “recusado retirar o convite ao Congresso Judaico Europeu (EJC, na sigla em inglês) para participar na Cimeira depois de ter sido informada de um vídeo publicado no YouTube, que esteve disponível até há pouco tempo, no qual o Presidente do EJC, Dr. Moshe Kantor, profere um discurso de ódio que estigmatiza e demoniza os muçulmanos e os migrantes, além de apelar ao controlo populacional”.

Nesse sentido, consideram que a Comissão Europeia “coloca em causa a integridade da Cimeira e do plano de acção contra o Racismo, bem como a colaboração construtiva com a sociedade civil, ao dar a plataforma a uma organização [EJC] que recusou distanciar-se de discursos de ódio proferidos pelo seu fundador e presidente, apesar dos apelos para o fazer”.

Do ponto de vista das organizações, “o sucesso das acções da UE em matéria de justiça racial depende de uma vontade política sustentada para combater o racismo estrutural” em conjunto com a sociedade civil, o que, a seu ver, se torna ainda mais necessário tendo em conta “a sub-representação das minorias raciais e étnicas entre os decisores políticos da UE”.

Por fim, a declaração sublinha que “os eventos de 2020 e o movimento Black Lives Matter evidenciaram a gravidade do racismo estrutural e de como ele afecta a vida das pessoas de formas extremas”, apelando, por isso, à participação das “pessoas racializadas” na sociedade.

A Cimeira Europeia Contra o Racismo contará com a participação, entre outros, da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, da vice-presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, e da ministra de Estado e da Presidência portuguesa, Mariana Vieira da Silva.

A Comissão definiu como objectivo da cimeira “envolver todas as partes interessadas” na “definição de prioridades” para a erradicação do racismo na UE. “A luta contra o racismo deve prosseguir e ser intensificada como uma frente comum”, defende a Comissão.

A declaração conjunta foi uma iniciativa da Rede Europeia Contra o Racismo (The European Network against Racism) e a Iniciativa Equinócio pela Justiça Racial (Equinox Initiative for Racial Justice) e é subscrita por outras 42 organizações anti-racismo.

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