Sonae diz que limite às rendas “deu” entre 400 e 500 milhões a cadeias internacionais

Grupo Sonae teve mais de 1000 lojas encerradas durante o período de estado de emergência. Alargamento do programa Apoiar Rendas aos contratos de centros comerciais visto com “bons olhos”.

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Nelson Garrido

A presidente-executiva (CEO) da Sonae, Cláudia Azevedo, avançou esta quinta-feira que a lei que reduziu as rendas dos centros comerciais de 13 de Março a 31 de Dezembro "deu” entre 400 e 500 milhões de euros a grandes cadeias internacionais (pela isenção da componente fixa) em prejuízo de empresas nacionais.

Falando na apresentação das contas do grupo de 2020, ano em que a Sonae Sierra foi o negócio mais impactado pela pandemia, a CEO referiu que “é inacreditável o valor que saiu de Portugal com essa lei”, lembrando que, em Portugal, os dois maiores players do sector (donos dos centros comerciais) são portugueses, um deles a Sonae Sierra, enquanto a maior parte dos lojistas “são grandes grupos internacionais, maiores até do que a Sonae”. 

“Não faz sentido, foi discriminação”, disse Cláudia Azevedo, que destacou ainda a confusão gerada com a interferência da Assembleia da República entre dois privados.

A responsável referiu também que antes da lei a Sonae tinha chegado a acordos com 80% dos lojistas e “com mais tempo poderia ter chegado aos 100%”.

A CEO da Sonae (proprietária do PÚBLICO) foi ainda mais crítica em relação à norma interpretativa da lei que reduziu as rendas à componente variável, dizendo “ser totalmente incompreensível que tenha sido aprovada depois de o Provedor de Justiça ter vindo dizer que a lei era inconstitucional”.

Relativamente à devolução “retroactiva” das rendas, João Dolores, administrador-financeiro (CFO) do grupo, explicou que a diferença no modelo de facturação dos vários centros comerciais acaba por ter os mesmos resultados práticos, garantido que "a Sonae Sierra está a cumprir a lei".

Desde o início da pandemia (de Abril a Dezembro), o resultado da proprietária e gestora de centros comerciais caiu 89 milhões de euros, em larga maioria devido aos descontos nas rendas, fechando o ano com prejuízos de 42 milhões de euros.

A forma de confinamento, que implicou o encerramento temporário de cerca de mil lojas no universo do grupo, também merece críticas de Cláudia Azevedo, pela discriminação na reabertura entre lojas de rua e de centros comerciais, e pela limitação de venda de determinados artigos em estabelecimentos autorizados a abrir.

“A nossa concorrência é mundial. Quando o Governo proibiu a venda de brinquedos em hipermercados, houve um player internacional com operação em Espanha que vendeu mais brinquedos para Portugal do que na própria Espanha”, declarou, referindo que a decisão do Governo “fez com que todos os portugueses perdessem”, por se tratar de um operador que “não emprega em Portugal, não paga impostos em Portugal”.

Já sobre o alargamento do programa Apoiar Rendas a contratos de arrendamento dos centros comerciais, foi a vez do CFO, João Dolores, dizer que vêem com “bons olhos” essa medida. “Não podíamos suportar, sozinhos, toda a ajuda. É uma ajuda importante”, afirmou.

Ainda relativamente às rendas dos centros comerciais, João Dolores garantiu que a Sonae Sierra não sente pressão dos lojistas para alterar o tipo de contratos de arrendamento, dizendo que “o modelo actual funciona há mais de 30 anos de forma pacífica”.

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