Desabafo de uma geração à rasca

É verdade que hoje em dia já não se pode pensar em empregos rotineiros para toda a vida, perante o dinamismo de um mercado altamente concorrencial, mas isto não invalida que não se possa acreditar (porque temos esse direito) que o emprego jovem não possa ser uma realidade.

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Paulo Pimenta

A actual crise económica e social, fruto da pandemia que afecta todo o país, está a penalizar, de uma forma muito acentuada, a integração dos jovens no mercado de trabalho, principalmente os de primeiro emprego.

Esta geração, a mais preparada do século, após o término do seu percurso académico e apesar das suas elevadas qualificações, vê fecharem-se, uma a uma, as portas de emprego, resultando assim no impedimento de pôr em prática os conceitos aprendidos nas instâncias de ensino superior que uma grande parte frequentou.

Uma geração “detentora de todos os sonhos do mundo”, mas incapaz de complementar com a experiência os seus conhecimentos e manietada na projecção de um futuro profissional sonhado nos bancos da escola. O sonho que comanda a vida e comandou a vontade durante todo o seu percurso académico vai morrendo aos poucos, perante uma realidade inflexível e castradora dos desejos desta geração, que vê assim interrompida a sequência normal e lógica de formação académica para formação profissional.

A intransigência do mercado de trabalho em aceitar nos seus quadros a nova geração, dando-lhes a possibilidade de poderem demonstrar o que valem, tem levado muitos jovens a concluir que de nada valeu o esforço e as horas despendidas na sua longa formação.

É verdade que hoje em dia já não se pode pensar em empregos rotineiros para toda a vida, perante o dinamismo de um mercado altamente concorrencial, mas isto não invalida que não se possa acreditar (porque temos esse direito) que o emprego jovem não possa ser uma realidade, constituindo uma mais-valia pela inovação e criatividade que transporta.

Perante o cenário que o mercado apresenta e que coloca em causa a emancipação dos jovens, remetida cada vez mais para mais tarde, que se vêem assim impossibilitados de fazer a sua vida como determina a sua consciência, resta a esta geração aguardar nas filas dos centros de emprego, para que lhes ofereçam um emprego pouco consentâneo com a sua categoria académica, ou nas portas de embarque dos aeroportos para que outros países recebam de graça o que custou imenso ao Estado português. Assim, uma formação altamente qualificada é colocada num caixote do lixo de talentos e vontades.

Os pais que se esforçaram uma vida, trabalhando e pagando os seus impostos juntamente com a felicidade dos seus a seu lado, são os mesmos que em lágrimas vêem partir, sabe-se lá até quando, os seus filhos para poderem sonhar num país que não é o seu. Resta aos jovens lidar e lutar com a frustração de um projecto de vida cada vez mais difícil, da melhor maneira que podem. Esperemos que a geração à rasca se desenrasque…

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