UNESCO rejeita pavimentação de caminho que atravessa floresta da Laurissilva

Em causa está o projecto do governo madeirense de asfaltar uma estrada íngreme de terra batida, que sobe montanha acima, por entre a floresta Laurissilva, classificada há 20 anos como património mundial natural pela UNESCO.

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A intenção do Governo Regional da Madeira de pavimentar a via tem merecido a oposição dos grupos ambientais Gregorio Cunha

A UNESCO rejeita a pavimentação prevista pelo Governo da Madeira no Caminho das Ginjas, no Paúl da Serra, na ilha da Madeira, segundo uma resposta dada ao eurodeputado Francisco Guerreiro, do grupo parlamentar dos Verdes/Aliança Livre Europeia, divulgada esta quarta-feira.

A informação consta da resposta da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) a uma carta enviada por Francisco Guerreiro (Verdes/ALE) em 17 de Fevereiro deste ano, refere um comunicado do gabinete do eurodeputado português.

“O secretário-executivo da organização em Portugal remeteu para a análise da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) - uma organização internacional não-governamental que fornece ao Comité do Património Mundial da UNESCO avaliações técnicas sobre bens do património natural e que deu um parecer negativo na sua revisão técnica relativa ao estudo de impacto ambiental referente ao prometo proposto para pavimentar o Caminho das Ginjas - Paúl da Serra, na Floresta Laurissilva da Madeira, que pertence ao Património Mundial”, adianta o comunicado.

O Governo Regional anunciou que pretende pavimentar cerca de nove quilómetros daquela via, o que tem merecido a oposição dos grupos ambientais.

De acordo com o comunicado, a UICN considera que a “necessidade de pavimentar a estrada não foi demonstrada nos documentos analisados e deve ser clarificada, incluindo os benefícios específicos procurados em termos de protecção e conservação efectiva do património natural de valor universal excepcional”.

“A remoção prevista de até três metros de vegetação em ambos os lados da estrada, e o alargamento proposto de um troço de 100 metros para estacionamento de veículos e armazenamento de depósitos de água resultariam na perda de vegetação, incluindo espécies invasoras e espécies com estatuto de protecção, estatuto de conservação ameaçado e espécies endémicas, considera a UICN no seu parecer”, revela a nota.

A organização observa também que, “embora as espécies invasivas possam já ter afectado áreas adjacentes à estrada existente, tal não significa que uma renovação da estrada venha a causar, por conseguinte, impactos negligenciáveis”.

O aumento do número de transeuntes causados por uma renovação da estrada, por exemplo, “pode potencialmente levar a uma maior proliferação de espécies invasoras devido ao maior número de pessoas com acesso a novas áreas da floresta, o que constituiria um motivo de preocupação”, adianta o gabinete do deputado do Parlamento Europeu.

Relativamente à proposta de construção de um sistema de combate a incêndios que inclua depósitos de água, sistemas de drenagem e bocas-de-incêndio ao longo da estrada, “a UICN reconhece o potencial para uma gestão positiva dos incêndios, contudo, considera que a justificação para instalar tal sistema não é muito clara”.

A UICN salienta ainda, segundo a informação divulgada, que a pavimentação da via motivaria um maior acesso global à zona, “com o potencial de exacerbar a pressão do tráfego das comunidades locais, aumentar a pressão do turismo e a exploração de recursos”, e refere que parece não ter sido realizado qualquer estudo de tráfego.

A estrada das Ginjas foi aberta em terra batida na década de 80 do século XX e estabelece a ligação entre o concelho de São Vicente, norte da ilha, e o planalto do Paul da Serra, numa distância de cerca de 10 quilómetros.

O Governo Regional da Madeira anunciou em 2019 que iria proceder à sua asfaltagem, obra orçada em sete milhões de euros e que recebeu o parecer favorável da Câmara Municipal de São Vicente.

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