O Bairro das Estacas, em Alvalade, está em vias de classificação

Bairro construído entre 1949 e 1954 está agora protegido pela Lei de Bases do Património Cultural. Zona verde do bairro, que foi projectada pelo arquitecto Ribeiro Telles, foi requalificada recentemente.

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Espaços ajardinados e pedonais foram recentemente requalificados. Esta fotografia é anterior à intervenção Rui Gaudêncio/Arquivo

O Bairro das Estacas, em Lisboa, está em vias de classificação, estando assim protegido pelo regime de protecção e valorização do património cultural​. De acordo com um anúncio publicado em Diário da República esta quarta-feira, este bairro da freguesia de Alvalade será alvo de um procedimento de classificação, o que lhe atribui, desde já, as mesmas protecções legais de que gozam os bens patrimoniais classificados.

“O conjunto em vias de classificação e os imóveis localizados na zona geral de protecção (50 metros contados a partir dos seus limites externos) ficam abrangidos pelas disposições legais em vigor"desta legislação que estabelece as bases de protecção e valorização do património cultural”, refere o despacho assinado pelo subdirector-geral do Património Cultural, João Carlos dos Santos.

O bairro de habitações económicas de São João de Deus, que ficaria conhecido como Bairro das Estacas, situado entre as ruas Bulhão Pato, Teixeira de Pascoais, Antero de Figueiredo, Pedro Ivo e Avenida Frei Miguel Contreiras, foi construído entre 1949 e 1954 e é um exemplo da arquitectura modernista em Lisboa.

Foi projectado pelos arquitectos Ruy Athouguia e Sebastião Formosinho Sanchez, integrado no programa de construção do Bairro de Alvalade, com o objectivo de aí criar um conjunto habitacional de renda limitada.​ Esses terrenos estavam então ocupados por diversas parcelas hortícolas, que foram então expropriadas pela Câmara Municipal de Lisboa. 

A obra, encomendada pelo município, rompeu com o modelo de arquitectura tradicional, ao gosto do Estado Novo, ao erguer os edifícios sobre pilares — as estacas que deram nome ao bairro — e sob um tapete de natureza que foi projectado pelo arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles.

Com esse desenho, inovador para a época, rompeu com a organização tradicional do quarteirão totalmente fechado, uma vez que no seu interior nasceram espaços ajardinados, zonas de lazer que permitiam a circulação pedonal entre os blocos habitacionais. Essa parte exterior foi recentemente requalificada pela Junta de Freguesia de Alvalade, após um período de auscultação pública.

Os blocos assumiram também uma feição moderna, seguindo o exemplo do que já vinha a ser praticado em algumas cidades europeias, com a influência da arquitectura proposta por Le Corbusier

O arrojo para a época valeu a este projecto e aos seus arquitectos o reconhecimento internacional, tendo sido premiados em 1950 na Bienal de Arquitectura de São Paulo. Em 1954 receberam também o Prémio Municipal de Arquitectura.

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