Morremos mais e houve menos nascimentos: saldo natural em Portugal cada vez mais negativo

Dados do Instituto Nacional de Estatística dão conta de que, em 2020, houve menos 2,6% nascimentos e mais 10,2% óbitos do que em 2019

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Daniel Rocha
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Um bebé nascido em plena pandemia, no Hospital de S. João, no Porto Manuel Roberto

Em 2020, nasceram menos bebés em Portugal e o número de óbitos cresceu muito, o que fez com que o saldo natural do país (a diferença entre o número de nados-vivos e de óbitos) continuasse negativo, pelo 12.º ano consecutivo, e em valores superiores aos anteriores. Os dados, ainda preliminares, são do Instituto Nacional de Estatística (INE) e foram revelados esta terça-feira.

Segundo o INE, em 2020 houve 84.558 nados-vivos registados no país e 123.467 óbitos, o que representa, em comparação com o ano anterior, menos 2,6% de nascimentos e mais 10,2% de óbitos. A responsabilidade, ainda que não exclusiva, é, sobretudo, da pandemia, como reconhece o INE numa curta avaliação: “No contexto da pandemia de covid-19, o aumento do número de óbitos, assim como o decréscimo do número de nados-vivos, determinaram um forte agravamento do saldo natural (-38.856).” Em 2019, o valor do saldo negativo era -25.214.

O instituto salienta que os dados são ainda preliminares e podem sofrer alterações, já que os valores obtidos são com base nos registos feitos nas conservatórias de Registo Civil e “poderá verificar-se um maior desfasamento entre o momento de nascimento e o momento do registo, com implicações na entrada de registos de nados-vivos no INE.”

Por enquanto, olhando para os dados agora divulgados, parece que a pandemia e o confinamento não levaram a um aumento de nascimentos em território nacional. Sendo certo que parte dos nascimentos de bebés concebidos durante este período ainda não aparecem nesta análise, porque só irão nascer em 2021, o que os dados do INE nos mostram é que Dezembro, altura de nascimento de crianças que já foram concebidas em pleno confinamento, foi o mês com menor número de nados-vivos registados em todo o ano. Nesse mês, houve 6252 nados-vivos, número que só teve um equivalente em Fevereiro, com 6363 registos. Por oposição, Setembro, com 7646 nados-vivos registados, foi o mês com maior número de nascimentos no país.

Já os óbitos traduzem as principais causas para picos de mortes conhecidos no ano passado – as que foram causadas pela covid-19 ou pelas ondas de calor. Curiosamente, Janeiro, num período pré-covid, mas em que a gripe costuma aumentar a mortalidade, aparece como o 2.º mês com o maior registo de óbitos (11.862). O mês mais mortífero foi, contudo, Dezembro (12.951 óbito), com Novembro a registar o 3.º valor mais elevado, ao registar 11.454 óbitos. 

Em Dezembro, quando foram revelados os dados do programa de rastreio neonatal referentes ao período entre Janeiro e Outubro, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, já se previa que Portugal iria ter o maior saldo natural negativo do século, conjugando um ano de menor natalidade e maior mortalidade. Especialistas ouvidos pelo PÚBLICO, na altura, destacavam que o maior factor para o aumento do saldo natural negativo era o excesso de mortes verificado ao longo de 2020 (fruto da pandemia, das ondas de calor e de um menor acesso aos serviços de saúde por parte de patologias não relacionadas com a covid-19), salientando que, cada vez mais, o saldo migratório terá um efeito preponderante na capacidade do país de diminuir ou até inverter este saldo natural negativo.

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