Nós vamos à greve climática

As greves climáticas, enquanto momentos de pressão contra as instituições governamentais para agirem frente à crise existencial que ameaça o futuro da humanidade, são cada vez mais necessárias. Nós vamos à greve climática porque é preciso dizer basta à inacção.

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Nuno Ferreira Santos

No próximo dia 19 de Março acontecerá mais uma Greve Climática Estudantil em Portugal, no contexto das mobilizações mundiais dos diversos movimentos pela justiça climática. A importância de mais uma manifestação pelo clima pode passar um pouco despercebida devido à situação actual da pandemia, mas na verdade continua a ser extremamente necessário levantar a bandeira contra a emergência climática.

Primeiramente, é importante dizer que há uma relação entre o surgimento de novas pandemias e as alterações climáticas, assim como também já há um certo reconhecimento na comunidade científica da relação entre as alterações climáticas e o agravamento das ocorrências de doenças contagiosas. Com o estado calamitoso que o novo coronavírus deixou a nossa sociedade, tudo o que menos devemos querer neste momento é o surgimento de novas pandemias.

A crise climática sempre se relacionou com outras crises, e isso está cada vez mais evidente. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 4,2 milhões de pessoas morrem de causas ligadas à poluição do ar, todos os anos. No final de 2020, o PÚBLICO noticiou um aumento de 3,36% no número de óbitos relacionados com a qualidade do ar, em comparação com dados de 2016. Relativamente à água, a OMS revela que mais de dois mil milhões de pessoas estão condenadas a usarem fontes poluídas de água hoje, e apontam que caminhamos para ter metade da população mundial, em 2025, a viver em áreas de stress hídrico

O nosso Governo continua a insistir no Acordo Comercial entre União Europeia e Mercosul, com graves consequências ambientais, e continua a priorizar a gentrificação e a especulação imobiliária nos grandes centros urbanos portugueses. Na aviação, o Governo autoritariamente pretende proibir o veto do poder local (que tanto disse em tempos defender por tê-lo exercido) à construção de um aeroporto numa localização extremamente problemática. Nem os cientistas, nem os jovens, estão a ser escutados pelo Governo. 

A degradação ambiental que leva à crise climática é, por si só, um problema. Antes mesmo de pensarmos nos efeitos adversos dessa crise (que, por sinal, estão próximos de se tornarem irreversíveis), temos de nos preocupar também em combater os problemas inerentes a essa degradação. A água é um bem essencial e saber que metade da população terá problema de acesso a esse bem, que é um direito humano, é um sentimento terrível. Estamos a falar de possíveis guerras por água e por solos férteis, num cenário que também prevê 200 milhões de refugiados climáticos. A crise climática é a soma de múltiplas crises, sociais, económicas e ambientais.

As greves climáticas, enquanto momentos de pressão contra as instituições governamentais para agirem frente à crise existencial que ameaça o futuro da humanidade, são cada vez mais necessárias. Nós vamos à greve climática porque é preciso dizer basta à inacção. Porque não podemos permitir mais pandemias. Porque não podemos permitir mais guerras, mais fome, mais colapsos. Vamos à greve climática porque fazemos parte da última geração que ainda tem tempo de reverter os efeitos dessa crise.

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