“Vender ao postigo não é para todos os negócios”

Nem todos os comerciantes estão convencidos das virtudes da venda ao postigo, que as lojas de bens não essenciais podem retomar nesta segunda-feira. Centros de estética reabrem as portas e com a procura em alta: “Uma pessoa sentir-se bem consigo é uma questão de saúde mental.”

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O portão de ferro que protege a montra da joalharia está corrido até meio. Lá dentro, Carlos Pires organiza jóias e relógios nas vitrinas. A actividade podia ser banal, tendo em conta que, nesta segunda-feira, volta a ser permitida a venda ao postigo no comércio de bens não essenciais. Mas este comerciante de Braga está ainda cheio de incertezas. “Ainda não sei se vou reabrir”, confessa. “Vender ao postigo não é para todos os negócios.”

A Joalharia de Carlos Pires fica na Rua do Souto, a principal artéria comercial de Braga. Nos últimos meses, a cidade acostumou-se ao cenário fantasmagórico deste fim-de-semana. A falta de movimento numa zona da cidade habitualmente cheia de transeuntes é um dos motivos de preocupação do comerciante: “Está a ver o que é montar aqui uma banca à porta da loja? Estou a mostrar peças e de repente alguém pega num relógio e põe-se a correr por aí abaixo.”

Mais do que o receio de um furto, são as próprias características do comércio de joalharia que causam dúvidas a Carlos Pires. Uma loja como esta não é “o tipo de sítio onde um cliente vem para comprar um produto que já tem decidido”. É preciso mostrar opções, deixar que as pessoas experimentem as peças e se vejam com elas, acrescenta.

A preocupação não é diferente numa loja de pronto-a-vestir. “O cliente gosta de entrar, ter contacto com a roupa, ver o que temos para oferecer”, explica Custódia Pereira. Ainda assim, a loja de roupa para crianças em que trabalha, numa pequena galeria comercial na Rua de S. Marcos, vai passar a vender ao postigo a partir desta segunda-feira.

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A Joalharia de Carlos Pires fica na Rua do Souto, a principal artéria comercial de Braga

Custódia Pereira trabalha em comércio de artigos para crianças há 45 anos – “já estou a vestir a segunda ou a terceira geração” – e nunca viveu uma situação como esta. À porta da loja, onde conversa com o PÚBLICO, vai colocar um balcão onde fará o atendimento, sem que os clientes possam entrar no estabelecimento. “As pessoas é que vão ter de me dizer o que querem e eu vou buscar. Não é a mesma coisa, mas vamos ter de nos adaptar.”

A experiência do desconfinamento do ano passado abre algumas perspectivas boas para o negócio: “Maio do ano passado foi o melhor mês de que me lembro.” Os clientes pareciam estar com “muita vontade de comprar” depois de dois meses encerrados em casa. No Verão, a procura quebrou e nunca mais se reergueu. Com a Páscoa à porta, uma época “que costuma ser muito boa” para as vendas, a facturação da loja de pronto-a-vestir poderá receber o empurrão de que está a precisar.

Antecipando a reabertura, Custódia Pereira passou a última semana no estabelecimento comercial. Retirou dos mostradores as peças de Inverno, que ali tinham ficado desde o início do confinamento, em meados de Janeiro. Em cima do balcão ainda há umas dezenas de vestidos de bebé, que é preciso dobrar e guardar. E ainda é preciso refazer as montras com as novidades da estação.

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Custódia Pereira passou a última semana na loja de roupa para criança

As capas de telemóveis não têm colecções como o pronto-a-vestir, mas também há modas e novidades. Dulce Araújo e duas colegas estão a “reorganizar a loja com todos os modelos que chegaram”. É preciso colocar nas estantes as novidades dos últimos dois meses. “Normalmente, chegam produtos todas as semanas”, conta a responsável pela loja de Braga de uma rede de “carcaças” para telefones. Desta vez, é preciso “colocar tudo no lugar ao mesmo tempo”.

Pelo facto de vender produtos tecnológicos, a loja de Dulce Araújo podia ter estado aberta nos últimos meses. Os responsáveis optaram, no entanto, por encerrá-la, tendo em conta o pouco movimento que havia nas ruas de Braga. Agora entendem que é o momento para regressar ao contacto com o público. Pelas suas características, o estabelecimento não estará, a partir desta segunda-feira, limitada à venda ao postigo. Os clientes vão poder entrar – “dois de cada vez, como já se faz desde Maio”.

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Num centro de estética no centro de Braga fazem-se os últimos preparativos para reabrir portas. Aspiram-se as alcatifas, revêem-se os stocks

Alice Roriz também pode voltar a receber clientes normalmente a partir desta segunda-feira. Proprietária de um centro de estética no centro de Braga, está a fazer os últimos preparativos para reabrir portas. Aspiram-se as alcatifas, revêem-se os stocks. Reabre-se também a agenda de marcações, que começa a ficar preenchida para os próximos dias. “As clientes estão com ânsia de vir”, garante. Na montra do estabelecimento, ainda está a folha branca que anunciava o encerramento a partir de 15 de Janeiro. Dois meses volvidos, muitas pessoas têm urgência em fazer os tratamentos: “Uma pessoa sentir-se bem consigo é uma questão de saúde mental.”

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