Verdes afirmam-se em Baden-Württemberg, CDU com mínimos históricos

Eleições em dois estados federados deste domingo poderão dar pistas para o ano eleitoral, que culmina com as legislativas em Setembro.

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Winfried Kretschmann (Verdes) vence um terceiro mandato em Baden-Württemberg ANDREAS GEBERT/Reuters

Os Verdes foram os vencedores das eleições em Baden-Württemberg, o que reforça a sua imagem de partido cada vez mais centrista, enquanto o Partido Social-Democrata (SPD) conseguiu manter o primeiro lugar na Renânia-Palatinado. As eleições nestes dois estados do Sul mostraram uma queda da União Democrata Cristã (CDU), o partido da chanceler, Angela Merkel.

Se as projecções à boca das urnas se confirmarem, será o pior resultado do partido nos dois estados federados. Mas há quem alerte para que a contagem dos votos postais possa mudar um pouco o cenário para os conservadores.

A CDU pode ter sido também prejudicada pelo escândalo em que dois deputados (um da CDU, outro da CSU, o partido-gémeo na Baviera) lucraram com contratos de compra de máscaras cirúrgicas na primeira vaga da pandemia. O escândalo não sai das primeiras páginas dos jornais (foi também o tema de capa da revista Der Spiegel).

Há vozes no partido a comparar este caso com o escândalo de financiamento ilegal e contas secretas que levou ao afastamento do antigo líder do partido e “chanceler eterno” Helmut Kohl (e do seu protegido Wolfgang Schäuble), abrindo caminho a outra protegida, a então chamada “miúda” de Kohl, Angela Merkel.

O actual chefe do partido, Armin Laschet, reagiu à comparação dizendo que esta é “totalmente absurda”, num evento online do jornal Handelsblatt. Uma comparação com um caso envolvendo dois deputados do partido “que numa emergência médica fizeram negócios” tem “zero-vírgula-zero” a ver com um caso em que “um líder da CDU, que também era chanceler”, não ter registado doações e o partido ter usado contas secretas. “Estas comparações são verdadeiramente inaceitáveis”.

Laschet arrisca-se a ver posta em causa a ambição de ser o candidato a chanceler pelos conservadores, com a ameaça do mais popular Markus Söder, líder do governo da Baviera, que ainda não disse se quer concorrer.

O descontentamento com o partido vem, no entanto, também de questões relacionadas com a vacinação e distribuição de testes rápidos, que estão ambas a demorar mais do que o esperado, e com o apoio a empresas em dificuldades, também criticado por falta de celeridade. Ambas as questões estão nas mãos de ministros da CDU, Jens Spahn (Saúde) e Peter Altmaier (Economia).

Os Verdes cimentaram, como esperado, a sua posição em Baden-Württemberg, sede de empresas como a Mercedes, Porsche, Daimler ou Bosch, e o único estado do país em que o partido ecologista é maioritário e tem um ministro-presidente. Winfried Kretschmann concorreu com o slogan “vocês conhecem-me” e conseguiu cerca de 30% segundo as primeiras projecções (uma variação mínima dos resultados de há quatro anos).

De seguida, a CDU está a uns distantes 23%, o resultado mais baixo de sempre no estado federado que dominou durante mais de 50 anos até 2011, ano do desastre nuclear de Fukushima e do primeiro governo de Kretschmann.

O Partido Liberal Democrata (FDP) e o Partido Social Democrata obtiveram cada um 11%, segundo as primeiras projecções, o que permitirá a Kretschmann considerar trocar a actual coligação com a CDU pela chamada “coligação semáforo”, chamada assim porque inclui um partido vermelho (SPD), um amarelo (os liberais) e os Verdes. “Vamos falar com a CDU, SPD e FPD”, disse Kretschmann à estação de televisão pública ARD após a divulgação das sondagens à boca das urnas.

Se o fizer, e apesar de a decisão ter mais a ver com implicações para o governo do seu estado, isso pode ser um sinal encorajador para quem tem vindo a defender que a recente queda de popularidade da CDU pode abrir caminho a uma coligação destas após as eleições de Setembro (embora a esta distância ainda seja visto como mais provável uma coligação entre a CDU e os Verdes). E mais um revés para Laschet.

Já na Renânia-Palatinado, o estado federado de Helmut Kohl, a ministra-presidente do SPD, Malu Dreyer, conseguiu uns convincentes 34,5%, deixando a CDU com 26% (nas sondagens andaram taco-a-taco), outro recorde histórico de mau resultado para os conservadores.

Os Verdes tiveram 8,5% (crescendo substancialmente) e os liberais 6,5%, o que permitirá a Dreyer manter a actual “coligação semáforo” (que é também a única hipótese para um governo maioritário – o outro partido com 10%, os nacionalistas da AfD, não é considerado uma hipótese de parceiro de coligação para nenhum outro partido).

“Os resultados de ambas as eleições desta noite sugerem que uma coligação semáforo também é uma hipótese a nível federal”, comentou no Twitter Christian Odendahl, do Center for European Reform.

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