Recordando o início e o fim da guerra colonial, 60 anos depois

Compete aos historiadores e investigadores averiguar, com serenidade e independência, os verdadeiros responsáveis e determinar as verdadeiras causas desse lado negativo da História de Portugal.

Há 60 anos (15 de março de 1961) teve início em Angola a guerra do Ultramar/colonial, com um massacre generalizado, perpetrado pela UPA (União das Populações de Angola), nos distritos de Cuanza norte, Uíge e Zaire. Foram assassinados, à catana, cerca de 1200 brancos e 5000 negros e destruídas centenas de habitações e fazendas e outras estruturas económicas.

No balanço destes 60 anos, importa recordar os caminhos que Portugal percorreu até à sua integração na UE, factos que os jovens de hoje não presenciaram. A história portuguesa cedo enveredou pelos caminhos da globalização, ao lançar-se na epopeia dos descobrimentos. O império português haveria de durar até ao século XX, altura em que surgiram os movimentos de libertação relativamente a tudo o que fosse considerado colonialismo.

Com os descobrimentos, procedeu-se à internacionalização das relações económicas e culturais e Portugal tornou-se a primeira economia global. Como muito bem refere o historiador José Hermano Saraiva, “a epopeia dos descobrimentos acontece em regiões geográficas muito diferentes: no séc. XV confina-se ao Atlântico, no séc. XVI abrange o Índico e o Pacífico, nos seéc. XVII e XVIII acentua-se no Brasil, nos séc. XIX e XX orienta-se para a África” (cf. História Concisa, pág. 134). Os vários impérios coloniais terminariam com base na norma jurídica da Carta das Nações Unidas (ONU) que proclama: “todos os povos têm direito à sua autodeterminação”.

Uma vez que Portugal não procedeu do mesmo modo, descolonizando, alguns desses países começaram a financiar os movimentos de libertação e a defender nas Assembleias das Nações Unidas deliberações hostis a Portugal, no sentido de o obrigar a proceder à respetiva descolonização.

Em 1961 surgiram os movimentos de libertação de Angola, seguidos pouco depois por iguais movimentos de guerrilha na Guiné e Moçambique, o que obrigou Salazar a enviar para o terreno fortes contingentes militares, com gastos elevados e um impacto psicológico provocado pelas baixas em mortos e mutilados.

Perante uma descolonização precipitada e sem uma negociação que permitisse uma saída calma, cerca de meio milhão de pessoas, que habitavam nas colónias, sem proteção e tomadas pelo pânico, abandonaram precipitadamente os territórios Ultramarinos/Coloniais, muitas delas apenas com a roupa que vestiam, e rumaram à metrópole (retornados), onde acabaram por se integrar, com a ajuda de amigos e familiares. Ao abandono ficavam milhares de soldados negros que haviam lutado ao lado do Exército português, acabando por ser vítimas de execuções sumárias, levadas a cabo em praças públicas.

Acabado o império colonial, a Portugal - que nos últimos anos da 2.ª república havia caminhado de costas voltadas para a Europa - oferecia-se agora um novo projeto nacional: a sua adesão à então Comunidade Económica Europeia (CEE), o que veio a acontecer através da assinatura do respetivo Tratado, em 1 de junho de 1985, no Mosteiro dos Jerónimos, para entrar em vigor no dia 1 de janeiro de 1986.

Há quem defenda que a péssima descolonização e o prejuízo causado a mais de meio milhão de retornados se deveu à confusão e ao vazio de poder que se verificou nos princípios da Revolução de Abril. Compete aos historiadores e investigadores averiguar, com serenidade e independência, os verdadeiros responsáveis e determinar as verdadeiras causas desse lado negativo da História de Portugal.

Finalmente, importa recordar os vários cemitérios onde se encontram sepultados muitos soldados portugueses caídos na guerra colonial. Uma situação de abandono que devia envergonhar o Estado português.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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