Restrições por causa da covid-19 e violência policial deixam gregos à beira de ataque de nervos

Um polícia agrediu uma pessoa por estar na rua sem máscara, uma idosa foi detida por não ter identificação. E o país quer abrir ao turismo a 14 de Maio.

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Confrontos entre polícia e manifestantes tornaram-se violentos ALKIS KONSTANTINIDIS/Reuters
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A violência aconteceu num bairro pacato de Atenas ALKIS KONSTANTINIDIS/Reuters
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Monastiraki: o confinamento é apertado em Atenas LOUIZA VRADI/Reuters
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A presença de apoiantes de equipas de futebol tinha sido notada KOSTAS TSIRONIS/EPA

A cada notícia, uma piada: na Grécia, mesmo o mais negro é visto com sentido de humor. O país, que tem medidas severas contra a propagação da covid-19 em vigor, quer abrir ao turismo a partir de 14 de Maio, mas quais serão as medidas em vigor nessa altura? Os gregos já brincam que podem escapar às restrições disfarçados: “Talvez usando sandálias e meias, para passarmos por turistas?”

Neste momento, é preciso enviar um SMS para sair de casa durante o confinamento, usar máscara na rua, não estar longe de casa, e ter identificação – caso contrário, é-se sujeito a multas.

E têm-se somado casos do que é visto como exagero nos castigos. Em Fevereiro, uma idosa foi multada em 300 euros por estar na praça central da cidade de Lamia (Centro), a vender alguns vegetais que produzia – não pelo dinheiro, mas porque vivia sozinha e o médico aconselhou-a a sair de casa (dias depois de uma festa incluindo o primeiro-ministro e 40 pessoas na ilha de Ikaria).

Esta semana, uma outra idosa foi detida (levada num carro de polícia, o que é uma acção que traz mais risco de contágio) por não ter identificação consigo, embora tenha enviado o SMS dizendo que ia sair e estivesse a usar máscara na rua. E dois professores que jogavam ténis num parque de Atenas foram algemados e levados para uma esquadra de polícia, diz o site Keep Talking Greece. Dias antes, surgiu a notícia de que apesar do confinamento a mulher do ministro da Saúde fez um piquenique no parque de Zappeion, também na capital.

Pior, na noite de domingo, houve violência policial no bairro habitualmente pacato de Nea Smyrni – há imagens de polícias a irem de mota contra um jovem, outros a gritar: “vamos matá-los!” (um vídeo transmitido por uma televisão detida por um oligarca apareceu com o som distorcido e uma legenda a dar a entender que os amotinados tinham um polícia em seu poder e o iam matar).

Tudo começou quando a polícia andou pelo bairro multando famílias que estavam sentadas em bancos nas praças, mesmo tendo as pessoas enviado os SMS e usado máscara. O bairro emergiu em protesto, na rua e com pessoas às janelas, e a polícia usou gás lacrimogéneo. 

Incidentes deste género são mais habitual acontecer em locais como a Praça Syntagma, à frente do Parlamento, ou Exarcheia, o bairro anarquista de Atenas, mas não em zonas tranquilas de subúrbio como esta. 

Enquanto o primeiro-ministro fez um discurso atacando sobretudo a violência contra a polícia, os vídeos iram viralizando com os ataques dos agentes aos transeuntes. O partido no Governo (Nova Democracia, conservador) culpou a oposição, do partido de esquerda Syriza, por incitar à violência numa marcha de protesto na terça-feira no mesmo bairro, quando houve motins e ataques à polícia, que se estenderam pela noite fora.

Agora, soube-se que os ataques à polícia na terça-feira foram levados a cabo por vários grupos de hooligans que terão combinado deixar as diferenças clubísticas de lado para atacar a polícia. O Syriza acusou o Governo de saber da ameaça dos hooligans e ainda assim ter apontado o dedo ao partido de oposição.

Enquanto isso, os casos de infecção pelo vírus que provoca a covid-19 estão a subir, e a Grécia tem neste momento uma média de infecções (móvel a sete dias) em relação à população maior do que o Reino Unido e até que os Estados Unidos.

O ministro da Saúde, Vasilis Kikilias, pediu o fim da violência, nem que seja porque os hospitais estão já no limite da capacidade para lidar com os casos de covid, e temendo contágios nos protestos. “As coisas têm de acalmar.”​

Mas ao cair da noite, juntava-se uma multidão de manifestantes na Praça Syntagma com o mote: “pelos direitos democráticos e contra o autoritarismo”.

Esta semana, o Governo anunciou ainda que não vai ser permitido lançar papagaios, a tradição que marca a segunda-feira de início da quaresma para os ortodoxos – uma actividade ao ar livre que não implica proximidade.

Muitos estão perplexos, por isso, como é que o Governo considera abrir a época turística a 14 de Maio. Há relatos de que a ideia é ter ilhas “sem covid” e encaminhar para lá os turistas.

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