Para fotografar auroras boreais, Nuno Cruz só tem de ir à janela: “É de arrepiar. Ficas hipnotizado”

Este português vive com a família entre a costa norueguesa e o pólo Norte. Desde casa, em Longyearbyen, não vê nada a não ser uma montanha e as auroras boreais que “dançam” à espera de serem fotografadas. “É o maior espectáculo da natureza. Ponto”.

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78°13′N 15°39′E. As coordenadas apontam Longyearbyen, a maior cidade e centro administrativo de Svalbard, arquipélago no oceano Ártico a meio caminho entre a costa norueguesa e o Pólo Norte. Não há no planeta um sítio mais ao norte com mais de mil residentes permanentes. “Hoje houve sol pela primeira vez”, diz à Fugas Nuno Cruz, com direito a noite polar durante 111 dias (de 27 de Outubro a 15 de Fevereiro), noite polar civil de 13 de Novembro a 29 de Janeiro e penumbra — devido ao sombreamento das montanhas — até cerca de 8 de Março, véspera da conversa com a Fugas ao telefone.

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Nuno está há oito anos em Longyearbyen

“A partir de agora, ganhamos meio-dia de sol por dia”, explica o português, em Longyearbyen, na ilha de Spitsbergen, com Sofia e dois filhos já nascidos na localidade onde a temperatura mais alta alguma vez registada é de 21.7 graus e a mais baixa de -46.3.

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“Ao meio dia aqui é como se estivesses na Amareleja à meia-noite. Não se vê nada 24 horas por dia e há auroras boreais 24 por dia”, descreve Nuno, lisboeta de 44 anos, com cerca de oito anos de Longyearbyen e “uns milhares de fotografias de auroras” — muitas delas conseguidas às custas de uma “gigantesca janela” e absolutamente “nada” entre a sua casa e uma montanha de 900 metros de altitude e um fiorde.

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"É maior espectáculo da natureza. Ponto" Nuno Cruz

“Ontem fotografei algumas à noite. Não dá trabalho nenhum”. Por incrível que pareça, muitas das fotografias (usa um iPhone 11 ou uma Sony a7R III e dá “pouco tratamento” às fotos) que mostra na sua conta de Instagram são tiradas a partir ou da janela da cozinha ou do quarto. Para as restantes, diz, só precisa de “um bom tripé” e de “boa roupa” em camadas sobre camadas. Se se afastar de casa leva consigo a mota de neve e uma espingarda, não vá o urso polar — em maioria por estas paragens — tece-las.

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É completamente proibido perturbar os ursos. Nuno Cruz

“Uso uma espingarda de calibre 308 com câmara para cinco balas e uma pistola de flores para os afugentar. Aqui é completamente proibido matar (ou até perseguir e perturbar) ursos. No entanto, se nada resultar e a nossa vida estiver em risco, temos de atirar a matar. A acontecer, o caso é investigado pela polícia e pelo governador da ilha”, explica Nuno que nunca teve problemas. “Mas temos de estar muito atentos. Podemos não ver nenhum urso mas eles vêem-nos a nós”.

O pior inimigo das fotografias é o frio. “Tens que esperar. E as noites limpas de nuvens são as mais frias. Às vezes não sinto as mãos”. Na véspera desta conversa o termómetro marcava menos 18 graus. “Há muitas noites com menos vinte e tal e dias seguidos com menos 30”.

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Em Portugal, o casal tinha uma “vida normal”, afectada pela crise. Aterraram “literalmente no meio do nada”. Começaram “quase do zero” num arquipélago “do tamanho da Suíça” com 2600 habitantes, hoje dos poucos pontos do globo livre de covid-19. “Longe de tudo”, “isolado de tudo”, vai repetindo Nuno, com formação em Gestão de Marketing e hoje responsável de manutenção de hotelaria.

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Já fotografava, “mas pouco”. Assume a sua paixão pela natureza e não raras vezes está no sofá a “ver um espectáculo sem igual” feito de “contrastes”, de “paisagens desérticas e inóspitas”. Quando as auroras boreais são “fracas”, não liga. “Mas quando elas começam a crescer... é inevitável. Oito anos depois, a emoção continua a ser a mesma. Há noite em que é de doidos. É de arrepiar. Ficas hipnotizado, o nível de fascínio é muito grande. É maior espectáculo da natureza. Ponto”.

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