Se a covid-19 nos afastou fisicamente, aproximou-nos digitalmente e permitiu que fossem feitos projectos nunca antes trabalhados. A Society for News Design (SND) e Søren Nyeland, director de arte do jornal Politiken, convidaram os ilustradores e cartunistas de todo o mundo a partilharem e mostrarem os trabalhos que realizaram com a temática da pandemia.

Ao PÚBLICO, Søren Nyeland conta como surgiu a ideia de começar esta iniciativa. "Tudo começou com minha firme convicção de que o activismo global - especialmente o activismo global visual - pode abrir os olhos ao público em geral e aos políticos, para verem os problemas, os sofrimentos e as soluções mútuas no mundo" começa por contar o director. "Neste caso, este projecto é a voz forte - mas raramente unida - de um grupo internacional de ilustradores e cartunistas. De repente, podemos vivenciar, rir e explorar os novos conceitos de lutas, cooperações, comportamentos, que todos, no mundo, partilhamos. Mas também as belas pequenas diferenças".

O impulsionador do projecto diz ainda que já esperava muita adesão por parte dos jornais. "Nós sabemos que podemos sempre contar com jornais como o PÚBLICO, o Helsinki Sanomat, o Die Zeit, o Financial Times, o Asahi Shimbun e outros". "Mas também tivemos surpresas quando, por exemplo, recebemos um cartoon do Bangladesh. Algumas nações não estão representadas, mas mostraram as boas intenções e que realmente tentaram, nestes tempos difíceis, colaborar". "Na Rússia, um professor de design enviou email a 70 cartunistas para obter um cartoon, e na Eslovénia, o ilustre cartunista Ciril Horjak saiu da cama doente, estando com covid-19, para fazer uma ilustração maravilhosa de Sísifo. Significou muito para Horjak fazer parte desta iniciativa", conta.

Para Søren Nyeland, esta iniciativa pode chegar ainda mais longe. "Para o ano, podemos fazer outra exposição sobre as mudanças climáticas". "Esta união mudará o mundo para um lugar melhor com cartoons como força motriz. Talvez uma pequena mudança, mas já me deixa muito orgulhoso", porque na sua opinião, este projecto "mostra que o jornalismo é mais do que apenas fluxos intermináveis de palavras. Mostra que o jornalismo pode e deve ser usado também em trabalhos activistas. Mostra que o jornalismo é um excelente vínculo global entre as nações".

O PÚBLICO, pelas ilustrações de Cristina Sampaio, EFFE.NEWS, Gabriel Sousa, Miguel Feraso Cabral e de Nuno Saraiva, demonstrou o talento português e como a pandemia pode ser um tema explorado de diversas perspectivas. O jornal Expresso, com ilustrações de Helder Oliveira, e o Diário de Notícias, com ilustrações de André Carrilho, também submeteram as suas ilustrações.

Participaram na iniciativa 43 países, 68 jornais, com 112 ilustradores e cartunistas, submetendo-se, assim, mais de 400 ilustrações e cartoons. Da lista de participantes destacam-se países como Israel, Arábia Saudita, África do Sul, assim como o Bangladesh. Jornais como o The Guardian, o Washington Post, o The Day, o Financial Times também enviaram os seus trabalhos.

Este projecto concilia o jornalismo e a arte, valorizando os ilustradores e cartunistas que desmistificam e interpretam a covid-19 e a pandemia de uma forma artística e, por vezes, caricata, permitindo conhecer também como outros países encaram e representam o vírus.