Plano Biden e vacinas reforçam desvantagem económica da UE face aos EUA

OCDE reviu em alta as suas previsões de crescimento para a economia mundial em 2021. Os Estados Unidos, com a ajuda de uma política orçamental agressiva, registam a maior aceleração

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Reuters/KEVIN LAMARQUE

A diferença no ritmo das vacinações e o impacto do plano de estímulo Biden vão conduzir a um acentuar da desvantagem da zona euro face aos Estados Unidos na retoma da economia durante este ano, mostram as previsões publicadas nesta terça-feira pela OCDE.

As projecções económicas interinas para os países do G20 realizadas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) revelam que esta instituição está agora bem mais optimista em relação à forma como a economia mundial irá recuperar das perdas recorde registadas em 2020. Para a generalidade das principais economias do globo, as previsões de crescimento do PIB em 2021 passaram agora, quando comparadas com as projecções realizadas no passado mês de Dezembro, a ser mais favoráveis.

A OCDE prevê agora que o PIB mundial cresça 5,6% em 2021 (depois de uma queda de 3,4% em 2020), enquanto em Dezembro apenas apontava para uma recuperação este ano de 4,2%.

No entanto, esta melhoria nas projecções faz-se sentir de forma muito diferente nos vários pontos do mundo. Se na zona euro, que registou uma contracção do PIB de 6,8% em 2020, a previsão de crescimento em 2021 foi revista de 3,6% para 3,9%, nos EUA, cujo PIB caiu 3,5% em 2020, a revisão em alta para 2021 foi bastante mais forte, de 3,2% para 6,5%.

Deste modo, enquanto na economia norte-americana se pode esperar um regresso do PIB aos níveis anteriores à crise já no decorrer deste ano, na zona euro terá de se esperar mais tempo para que isso aconteça. Para 2022, a OCDE reviu em alta, tanto para a zona euro como para os EUA, a sua previsão de crescimento em meio ponto percentual, para 3,8% e 4%, respectivamente.

Os três principais motivos dados pela OCDE para ter passado a projectar ritmos de crescimento mais altos durante este ano e o próximo são “a aplicação gradual de vacinas eficazes, os anúncios de apoios orçamentais adicionais em alguns países e os sinais de que as economias estão a lidar melhor com as medidas aplicadas para lidar com os avanços do vírus”.

É precisamente nos dois primeiros motivos que se encontram também as causas para o diferencial no desempenho esperado entre os EUA e a zona euro. O relatório da OCDE assinala, por um lado, que “o ritmo do processo de vacinação difere substancialmente entre os países”. Enquanto nos EUA a percentagem da população que já recebeu pelo menos uma dose da vacina se aproxima dos 20%, na UE esse valor está ainda bem abaixo de 10%. Isto faz com que as perspectivas de abertura da economia e consequente aceleração do crescimento sejam mais fracas.

Depois, no que diz respeito aos planos de estímulo orçamental, a grande diferença em relação ao cenário que se vivia em Dezembro foi a aprovação do plano Biden nos EUA. Este pacote de medidas terá um efeito positivo nas taxas de crescimento económico em todo o mundo, mas o impacto será naturalmente bem maior na economia norte-americana.

De acordo com a OCDE, o plano Biden deverá conduzir a um reforço da taxa de crescimento do PIB norte-americano entre três e quatro pontos percentuais. O efeito positivo na zona euro não ultrapassa o meio ponto percentual.

“Há cada vez mais sinais de divergência entre países e sectores. Medidas de confinamento estritas estão a limitar o crescimento em alguns países e no sector dos serviços no curto prazo, enquanto outros irão beneficiar de políticas de saúde pública efectivas, de uma aplicação mais rápida das vacinas e de um apoio mais forte das políticas [orçamentais e monetárias]”, afirma o relatório publicado nesta terça-feira pela OCDE.

Estes sinais de divergência são evidentes entre os EUA e a UE, mas, também, e de forma ainda mais preocupante, entre os países mais ricos e os mais pobres do planeta (aqueles que estão mais atrasados na vacinação e menos capacidade orçamental têm para introduzir estímulos).

Também dentro da própria UE, as diferenças são notórias, com os países mais dependentes dos sectores dos serviços (principalmente o turismo) a serem mais penalizados, destacando-se os casos da Espanha, Itália, Grécia e Portugal.

A OCDE não apresentou novas previsões para todos os países, não actualizando, por exemplo, as projecções para Portugal. Uma revisão ligeira em alta da previsão para o crescimento do PIB português em 2021 (que em Dezembro foi de apenas 1,7%) seria provável, na mesma linha daquilo que acontece com os maiores países da zona euro.

Os dados económicos conhecidos para os primeiros dois meses deste ano revelam que, ao contrário do que se poderia inicialmente temer, as medidas de confinamento aplicadas agora estão a ter um impacto menos negativo na actividade económica do que tiveram no segundo trimestre de 2020, no início da pandemia.

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