Educar um homem a sério

O meu compromisso para este Dia da Mulher é dar o meu melhor na educação de um homem. Um homem a sério sem medo de mulheres, sem medo da igualdade e que perceba que todos temos a ganhar quando nos vemos iguais. Um homem que lute ao nosso lado e não à nossa frente.

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Há uns anos, a minha sobrinha mais velha tinha acabado de entrar para a escola e disse à minha irmã, triste, que gostava muito de ser piloto de aviões (como era o pai de um colega da escola), mas que isso nunca ia ser possível porque ela não era um menino. O coração caiu-me aos pés. Desde que ela nasceu que lhe mostrávamos os mais acabados exemplos de mulheres que mudaram a história da humanidade, de mulheres (apenas alguns exemplos) que se impuseram num mundo de homens e deixaram a sua marca e, mesmo assim, mesmo com a prateleira cheia de livros sobre grandes mulheres, ela continuava a pensar que não podia exercer uma determinada profissão porque é mulher.

Cresci numa familiar matriarcal. Tive mãe, irmã mais velha, tias, muitas tias e muitas amigas da minha mãe que foram segundas mães, segundas tias. Um pai que não vivia connosco, mas que nunca falhou no exemplo de igualdade. Cozinhava, limpava, arrumava com esmero. Não “ajudava”, fazia, naturalmente a sua parte e com gosto. Contava-me que tinha crescido na cozinha com a mãe e que as memórias dos cheiros dos cozinhados se tinham colado a ele de tal maneira que sempre tinha gostado de cozinhar. E fazia-o bem. Durante muito tempo (demasiado tempo) não me pareceu haver no mundo nenhum desequilíbrio, quando, afinal, continuamos à beira do precipício.

Tenho duas sobrinhas pequenas, duas meninas que preparamos para o mundo e para a vida como se se tratasse de uma batalha (não o é para as mulheres?), portanto, quando engravidei, não me passou pela cabeça que pudesse ter um rapaz. Que pudesse educar um homem.

Ouvimos desde sempre que são as mulheres que criam homens machistas. Muitas vezes oprimidas por uma sociedade patriarcal que lhes ensinou que é assim e pronto. Mas eu já sei mais do que isso. Já sei que não tem de ser assim. Só que, uma mulher eu (acho que) sei educar. É fácil educar para a luta quando ela se sente na pele todos os dias, desde pequena, mas e quem não a sente? Como mostrar, sem impor, como fomentar a empatia sem cair na condescendência, como proteger e amar sem tapar os olhos para as injustiças num mundo ainda tão coxo? E o medo apodera-se de mim durante a noite como um polvo. E se eu não souber educar um homem que, tal como eu, acredita e vive a igualdade de género? Não é uma responsabilidade muito maior educar um homem para não perpetuar o machismo e quebrar o sistema?

Percebi há muito tempo, pelos meus ideais ecológicos, que impor, criticar a falta de acção do outro é contraproducente, portanto, a melhor maneira de educar é pelo exemplo. Mas criar um homem num mundo em que é tão fácil fechar os olhos ao privilégio que se tem é todo um novo desafio. Um desafio acrescido a uma primeira viagem na maternidade, um desafio acrescido para uma mãe feminista que não quer cair nos hábitos de séculos que nos dizem que “os homens são mesmo assim”, que “os homens não têm jeito para essas coisas (das limpezas)”, que não podemos deixar chorar as crianças e deus nos livre um menino mostrar sentimentos.

O meu compromisso para este Dia da Mulher é dar o meu melhor na educação de um homem. Um homem a sério sem medo de mulheres, sem medo da igualdade e que perceba que todos temos a ganhar quando nos vemos iguais. Um homem que lute ao nosso lado e não à nossa frente.

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