No Dia da Mulher, uma mensagem especial para os homens

Ter consciência de que ser homem é estar em constante vantagem é meio caminho andado para facilitarmos a vida às mulheres com quem convivemos. E também para ganhar consciência sobre como podemos ou devemos fazê-lo.

Que os homens são um bocado toscos, já não é novidade para ninguém. As clássicas falhas de comunicação entre homens e mulheres já vêm de tempos imemoriais, e se tivermos de fazer a pesagem das vitórias e das derrotas na argumentação entre sexos, a desvantagem é claramente masculina. E, por mais que queiramos fazer qualquer coisa acertada, acabamos sempre por dar um tiro no pé.

Não acredito que todo o machismo seja de má índole. Há muito machismo - provavelmente a maior parte do machismo - que é involuntário. Porque vivemos num mundo feito à medida dos homens, orientado para os homens, erguido por homens que raramente prestaram atenção às necessidades das mulheres. Em 2019, Caroline Criado Perez publicou um longo estudo sobre a forma como as mulheres precisam de se sujeitar a esse mundo – chama-se Mulheres Invisíveis e está traduzido para português pela Relógio d’Água -, o que as coloca numa permanente posição de desvantagem com coisas tão simples mas tão determinantes como o tamanho dos telemóveis ou a forma como as casas de banho públicas são arquitectadas. Não faria mal a ninguém se este estudo fosse obrigatório na escola, em particular para os rapazes. Ter consciência de que ser homem é estar em constante vantagem é meio caminho andado para facilitarmos a vida às mulheres com quem convivemos. E também para ganhar consciência sobre como podemos ou devemos fazê-lo.

Há meia dúzia de dias, a Conferência Empresarial de Portugal (CIP) esteve debaixo de fogo nas redes sociais por ter promovido uma mesa redonda de discussão sobre os motivos que impedem as mulheres de alcançar posições de gestão nas empresas. Problema: a discussão seria feita apenas por homens. Acontece que, às vezes, as redes sociais têm razão. Esta foi uma dessas ocasiões: a ideia foi tonta e, pese embora a boa intenção, era um completo contra-senso perante aquilo que defendia – que estranho, as senhoras não chegarem a posições de gestão se nem sequer lhes é dado acesso a uma mesa para debater com senhores.

Nós, homens, não temos de ser os gate-keepers do acesso das mulheres aos lugares, aos postos, às oportunidades. Porque o direito ao acesso é – ou devia ser, pelo menos – inequívoco. Não é hora de discutir, é hora de agir. E aceitar que somos inatamente machistas, pelo modelo de sociedade em que crescemos. E quem diz que não é está a tapar o sol com a peneira: todos somos um bocado machistas, mulheres incluídas. Quem não vir isso, está em negação e a julgar que vive num mundo perfeito onde a igualdade é rainha. Última hora: não vivemos.

Se há trabalho para nós, homens, é este: abrir-lhes todas as portas que conseguirmos, construir-lhes púlpitos (ou dar-lhes pregos e madeira e martelos, porque elas não precisam de nós para nada, nem sequer para trabalhos pesados) e desamparar-lhes a loja. Ajudá-las, se virmos uma injustiça ou se nos for solicitado. E estar alerta, percebendo que o feminismo não é coisa de facções. É antes estar do lado das mulheres que sempre cuidaram de nós, desde o berço até aqui.

Se vamos fazer merda pelo caminho? Evidentemente. E, em boa parte das vezes, não será com maldade. Mas somos homens, está-nos impresso no sangue. Há que pedir desculpa, esperar que nos perdoem e encontrar a melhor forma de seguir em frente, juntos, nunca uns contra os outros. A guerra dos sexos está sobrevalorizada. Estamos todos a aprender.

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