Dia Internacional da Mulher: Ainda há um longo caminho por percorrer

Dependendo do ponto de partida em cada região do mundo, a visão de que a condição da mulher pode ser agente de mudança, passa por reforçar e estimular o ensino e a formação de qualidade e também agilizar a necessária harmonia entre a vida profissional e pessoal.

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Manifestação na Austrália Reuters/LOREN ELLIOTT

1975 foi designado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o ano Internacional da Mulher, tendo o dia 8 de março sido adotado como o dia Internacional da Mulher. Diversos são os relatos históricos, desde o início do século XX, alusivos às celebrações e conquistas alcançadas na linha dos direitos das mulheres. Não obstante, este dia é comemorado em muitos países em todo o mundo, atuando como marco relevante ao assinalar as conquistas das mulheres ao nível político, social e económico.

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) presentes na agenda 2030, numa abordagem concertada para alcançar um futuro melhor e mais sustentável para todos, incluem temas como a pobreza, desigualdade, alterações climáticas, a paz e a justiça… tendo sido definido um objetivo específico (ODS 5) dedicado ao tema da igualdade de género.

A igualdade entre homens e mulheres não se resume a um direito humano fundamental, mas constitui uma base necessária para um mundo mais equilibrado, próspero e sustentável. Nos últimos anos temos assistido a alguns progressos, com particular expressão nas sociedades mais desenvolvidas, tanto no acesso à formação, como no alargamento a posições de liderança assumidas por mulheres. Segundo dados reportados pela Organização das Nações Unidas (ONU), de 2020, ainda não nos aproximamos do equilíbrio ambicionado, havendo um longo caminho por percorrer. A definição de algumas diretrizes legais reforçadas por políticas públicas, parecem ser uma via para atingir esse objetivo, não devendo, todavia, esgotar-se em si mesma.

A realidade é que as mulheres são muitas vezes chamadas a responder em contextos de emergência ou de grande imprevisibilidade. Veja-se por exemplo o impacto da covid-19. A crise económica resultante da pandemia está a ter efeitos profundamente negativos na população em todo o mundo. De acordo com um relatório do Banco Mundial, o impacto da covid-19 em homens ou mulheres foi distinto. Áreas de assistência à saúde, trabalho doméstico, assistência não remunerada ou assistência à família, são principalmente desenvolvidas por mulheres que assim se tornam mais suscetíveis às consequências da pandemia covid-19.

Quando o confinamento e o teletrabalho impuseram o recolhimento das famílias às suas casas, foram sobretudo as mulheres que cederam o seu tempo de trabalho remoto para cuidar dos afazeres familiares. Pelo menos esta é a conclusão que se pode retirar de um estudo publicado no The Guardian que mostra que durante a covid-19, a submissão de publicações científicas por homens aumentou, enquanto por mulheres diminuiu.

Talvez este indicador traduza o sentido de missão das mulheres, mais atento ao cuidado e bem-estar da família. Esta característica intrínseca das mulheres, torna-as elementos cruciais na construção de sociedades onde o desenvolvimento económico e social se equilibra com a promoção de felicidade e bem-estar.

Em pleno século XXI, 750 milhões de pessoas em todo o mundo são iletradas e destas, dois terços são mulheres (UNWoman). Esta fração da população tem por consequência sérias limitações económicas e condicionamentos diversos às mais básicas condições de vida, incluindo acesso a cuidados de saúde e bem-estar. Tal condição é também muitas vezes barreira ao envolvimento social e participação consciente e informada em decisões das quais são parte interessada. O acesso à educação e ao ensino é a pedra basilar para atingir os objetivos do ODS 5.

Dependendo do ponto de partida em cada região do mundo, a visão de que a condição da mulher pode ser agente de mudança, passa por reforçar e estimular o ensino e a formação de qualidade e também agilizar a necessária harmonia entre a vida profissional e pessoal. Estas parecem ser as vias para reforçar o posicionamento em diferentes papéis na sociedade, desde cargos de liderança à capacidade de, como cidadã, tomar decisões conscientes e informadas.


A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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