Bloco desiste de colar Governo PS “à lógica da austeridade”

A direcção do Bloco de Esquerda já entregou a versão final da moção estratégica que irá levar à sua XII Convenção Nacional. Além de voltar a chamar chamar extrema-direita à direita radical, os bloquistas respondem às críticas internas sobre falta de diálogo e justificam a viabilização do Orçamento Suplementar.

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Catarina Martins assina a moção com Pedro Filipe Soares e Marisa Matias Nuno Ferreira Santos

O “ataque” contra a desigualdade passou a “luta”, a ultradireita volta a ser extrema-direita, há mais discurso antirracista e sobre a crise climática, mais justificações em relação à aprovação do Orçamento Suplementar e o desejo explícito de repor as freguesias extintas durante a troika. A versão final da moção estratégica que a direcção bloquista liderada por Catarina Martins – que resulta dos contributos das reuniões digitais desde que a líder bloquista, o líder parlamentar Pedro Filipe Soares e eurodeputada Marisa Matias apresentaram o primeiro texto – e responde às críticas levantadas por alguma oposição interna, apresentando o dobro das assinaturas recolhidas pela moção do movimento Convergência, que criticou a perda de influência do partido.

As mudanças em relação à primeira versão não são substanciais, mas mostram que os bloquistas decidiram recuar e voltar a chamar “extrema-direita” e não “ultradireita” à direita radical. O BE alarga também as críticas que faz à estratégia do PS e acusa os socialistas de excluir avanços sociais à esquerda e de liderar com base numa “chantagem” de ameaça e perda de poder não apenas para a extrema-direita, mas para toda a direita.

Apesar de manter a compromisso de distância em relação à “política de débeis paliativos” do PS, a nova versão da moção suaviza o discurso em relação à estratégia do Governo nos últimos meses. Em vez de recusar “uma governação que retoma a lógica da austeridade”, o Bloco pede “uma política consistente que, na urgência da resposta à crise, promova a criação de emprego e os serviços do bem comum e rejeite a austeridade”.

Depois das críticas levantadas por alguma oposição interna – como a moção do movimento Convergência – a nova moção da direcção procura justificar ao voto de abstenção dado no Orçamento Suplementar em 2020 e afirma que foi “estritamente necessário para assegurar o reforço da saúde e protecção social”, acrescentando que se as medidas ficaram “em grande parte, por executar” isso “comprova a opção do Governo por uma política de contenção, logo quando ela é mais inadequada”.

O tom sobe de crítica uns parágrafos depois, quando o assunto é o último orçamento (que teve o voto contra da bancada bloquista). E aqui vai mais longe do que na anterior moção. Ponto por ponto, a direcção recorda as propostas bloquistas que ficaram de fora documento orçamental e acusa o PS de ter recusado a recuperação do SNS com maior investimento e com carreiras atractivas; a recuperação dos subsídios de desemprego e fixação de apoios que assegurem às vítimas da crise um rendimento acima do limiar da pobreza; a penalização dos despedimentos durante a pandemia e sua proibição nas empresas apoiadas pelo estado e a reposição de direitos laborais eliminados pela troika. “Logo nos primeiros meses de vigência do Orçamento, comprovou-se a sua inadequação, levando o próprio governo a adoptar algumas das medidas que, mesmo insuficientes, tinha recusado na negociação com o Bloco”, sublinha o partido.

No texto revisto, Catarina Martins procurou também responder às críticas de falta de diálogo e propõe que exista o alargamento da “participação das e dos aderentes nas iniciativas e movimentos sociais com que dialogam”. O documento de 31 páginas argumenta que houve esforços por parte direcção para contornar as dificuldades impostas pela pandemia na articulação com as bases activistas sectoriais e locais, nomeadamente com a criação da plataforma Despedimentos.pt.

moção que será levada à XII Convenção Nacional do Bloco de Esquerda, que acontecerá a 22 e 23 de Maio, no Porto, é assinada pelos deputados parlamentares, mas também por nomes como o ex-líder bloquista Francisco Louçã, o fundador do BE Fernando Rosas e o ex-vereador Ricardo Robles.

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