Equipas móveis vão percorrer o país para testarem todas as escolas públicas

Em cada concelho será seleccionado um estabelecimento de ensino onde se concentrarão os testes. Professores, funcionários e alunos terão que se deslocar a essa escola. Universo de testados rondará 500 mil pessoas no primeiro varrimento. Repetição dependente da incidência

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Daniel Rocha

Equipas móveis, compostas por enfermeiros, técnicos e administrativos, vão percorrer o país para testarem todas as escolas públicas do continente. A complexa operação, que vai implicar no primeiro varrimento testar cerca de 500 mil pessoas, está a ser preparada pelos ministérios da Saúde e Educação em parceria com os laboratórios privados e com a Cruz Vermelha, que desde finais de Janeiro já realizou 55 mil testes nas escolas do continente. Neste universo, só foram detectados 70 casos positivos pelo novo coronavírus.

Mesmo assim, o Governo quer alargar o rastreio a todas as escolas públicas do país à medida que Portugal continental começar a desconfinar. As novas regras da estratégia nacional de testes para o novo coronavírus, que foi alterada no final da semana passada, determinam que nos diversos níveis de ensino serão testados todos os professores e funcionários, a que acrescem os alunos apenas do secundário, ou seja, 10º, 11º e 12º ano. Só este grupo, segundo as últimas estatísticas oficiais do Ministério da Educação referentes ao ano lectivo 2018/2019, integra perto de 315 mil jovens, 20 mil dos quais não estão abrangidos porque se encontram nas regiões autónomas.

Tudo indica que o modelo de realização dos testes será aquele que já se encontra no terreno com a Cruz Vermelha. Gonçalo Órfão, que coordena o programa de testes daquele organismo, explica que em cada concelho foi seleccionado pelos serviços regionais de educação um estabelecimento de ensino onde se concentra a realização dos testes. “As pessoas deslocam-se a essa escola para serem testadas”, explica Órfão, especialista em imuno-hemoterapia, que acrescenta que em casos excepcionais podem existir dois locais de testagem num só concelho, como já aconteceu no Alentejo. Dentro das escolas deverão ser usados os espaços de maior dimensão como os pavilhões gimnodesportivos.

A Cruz Vermelha tem estado a fazer os testes rápidos de antigénio, cujo resultado é conhecido em menos de 30 minutos, mas não deve ser este o tipo de análise efectuada pela maior parte dos laboratórios privados. Por exemplo, o médico Germano de Sousa, que é fundador de uma rede de laboratórios com o seu nome, adiantou ao PÚBLICO que a sua empresa tem capacidade para fazer 25 mil testes de antigénio por dia, mas fará apenas automatizados. “Uma equipa desloca-se para fazer a colheita das amostras, traz o material para os laboratórios centrais, onde as amostras são colocadas em máquinas que fazem a leitura e dão o resultado. Depois comunicam-no directamente às plataformas informáticas da saúde”, resume Germano de Sousa. Neste caso, os primeiros resultados demoram duas horas a sair e depois são sequenciais. A rede de laboratório do médico tem máquinas com capacidade para fazer seis mil testes em 24 horas e outras que fazem 10 mil testes num dia.

Na Unilabs, o director-geral, Luís Menezes, explica que tanto farão testes rápidos de antigénio, que usam um método semelhante aos testes de gravidez, como realizarão testes de antigénio automatizados. “Vai depender dos locais. Num município do interior, como Mogadouro, fará sentido fazer os rápidos, mas numa zona urbana em que se vão realizar muitas centenas ou milhares de testes já faz mais sentido usar os automatizados”. O gestor explica que cada equipa com duas pessoas, enfermeiros ou técnicos, pode fazer 300 colheitas por dia com apoio de um administrativo e equipamento informático e que a Unilabs consegue alocar 60 equipas a este trabalho. Se os testes forem rápidos será necessário mais um técnico para processar os testes e dar os resultados. 

Os profissionais de cada escola serão testados pelo menos uma vez e a repetição das análises dependerá da incidência que se registar no seu concelho. Só nos municípios que registarem uma incidência cumulativa a 14 dias superior a 120 casos por 100 mil habitantes deverão repetir os exames, de 14 em 14 dias, até o valor baixar.

O presidente da Associação Nacional de Laboratórios Clínicos (ANLC), Nuno Saraiva, sublinha que é muito importante a população perceber que estes são testes de rastreio e não de diagnóstico. “A ideia é fazer uma monitorização”, realça. Por isso, insiste que é preciso ter cautelas na interpretação dos dados e não baixar as guardas, abandonando os cuidados habituais, apenas porque se teve um teste negativo. Nuno Saraiva lamenta que o Governo só tenha abordado os privados no final da semana passada para pôr em marcha uma operação complexa, o que dificultou a sua organização. Realça que para que tudo corra bem é essencial que haja uma boa organização logística por parte do Ministério da Educação a quem caberá notificar os visados e encaminhá-los para os lugares certos. “Sugerimos que no universo global de testados 5% ou 10% fossem sujeitos de forma aleatória a testes moleculares [também conhecidos como PCR] para se controlar a eficácia dos de antigénio. Mas não sabemos se o Governo vai aceitar”, explica o presidente da ANLC.

Entre o trabalho da Cruz Vermelha e o dos laboratórios privados haverá uma enorme diferença para o Estado: o custo. Devido a um financiamento internacional que a Cruz Vermelha portuguesa obteve os testes que realizou nas escolas ficaram a custo zero para o Estado, garante Gonçalo Órfão, que explica que o financiamento obtido cobre o valor dos testes e da sua realização. O mesmo não se pode dizer dos laboratórios privados, que ainda não se sabe quanto receberão do Estado por estes rastreios.

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