Os anos que fizeram o século do PCP

Estas são algumas das datas que ajudam a perceber de onde partiu e como chegou aqui o Partido Comunista Português, o mais antigo dos partidos portugueses no activo.

Foto
DR

06.03.1921

Fundação do Partido Comunista Português, na sede da Associação dos Empregados de Escritório, em Lisboa. O PCP publica um manifesto com os 21 pontos da Internacional Comunista, que constituem a sua base política. Acaba o sincretismo ideológico que em 1919 reunia anarquistas, sindicalistas revolucionários e comunistas na Federação Maximalista Portuguesa, no apoio aos bolcheviques.

1922

É proclamada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

1923

Congresso do PCP elege José Carlos Rates secretário-geral.

1924

Morte de Lenine. Começa a ascensão de Estaline ao poder.

1925

José Carlos Rates é afastado do cargo de secretário-geral do PCP. Expulso do partido, acabou por se filiar, anos depois, na União Nacional, de Salazar.

1926

Golpe do 28 de Maio e instauração de ditadura militar. Dissolução do Parlamento, imposição da censura prévia.

1927

O PCP passa à clandestinidade.

1929

Bento Gonçalves, operário do Arsenal do Alfeite, é designado secretário-geral pelo congresso do PCP. No ano seguinte, é preso e deportado, primeiro para os Açores e depois para Cabo Verde.

Foto
Bento Gonçalves DR

1931

Álvaro Cunhal adere ao PCP, através da Federação das Juventudes Comunistas (FJC).

18.01.1934

Greve nacional contra o estatuto do trabalho nacional, que proibia os sindicatos livres, teve especial expressão na Marinha Grande, onde os trabalhadores do sector vidreiro, se revoltam e tomam o poder durante algumas horas.

Foto

1935

É preso o secretariado do comité central do PCP, composto por Bento Gonçalves, José de Sousa e Júlio Fogaça, que vai estrear o campo de detenção do Tarrafal, em Cabo Verde. 

1936

Álvaro Cunhal, com o pseudónimo “Daniel”, é eleito para o comité central. Neste ano, passa à clandestinidade e viaja até Moscovo para participar no congresso da Internacional Juvenil Comunista. No regresso, participa em Madrid na Organização dos Portugueses Antifascistas. 

1937

Atentado contra Salazar, perpetrado por um grupo anarquista, liderado por Emídio Santana. Álvaro Cunhal é preso, passa pelo Aljube e depois vai para Peniche.

1939

PCP é afastado do Comintern. Começa a II Guerra Mundial. A Alemanha invade a Polónia.

1940

No ano da Exposição do Mundo Português, com a amnistia dos centenários (1140 e 1640), um grande número de militantes é libertado, entre eles Álvaro Cunhal e Júlio Fogaça. O PCP leva a cabo uma reorganização, desenvolvida por Júlio Fogaça, contra o secretariado.

11.09.1942

Bento Gonçalves morre aos 40 anos no Tarrafal, onde reentra nesse ano Júlio Fogaça, de novo preso.

1943

III congresso do PCP, na clandestinidade, avança com a reorganização do partido, na linha leninista. Cunhal lidera o processo.

1945

Termina a II Guerra Mundial com a vitória dos Aliados. É fundada a ONU e Portugal não entra. A Europa fica dividida, com o Leste sob influência da URSS. É criado o MUD - Movimento de Unidade Democrática, sob influência do PCP. O regime cria a polícia política, a PIDE, herdeira da PVDE, que detém centenas de militantes do PCP. Fogaça sai da prisão.

Foto
Júlio Fogaça DR

1946

IV congresso do PCP, na Lousã. Grupo de Cunhal derrota a “política de transição democrática” e “coexistência pacífica”, defendida por Júlio Fogaça, o seu grande rival. Partido diz ter 7000 militantes.

1949

Nova vaga de detenções de dirigentes do PCP. Cunhal é preso numa casa clandestina, no Luso. Julgado no ano seguinte, é condenado a uma longa pena de prisão. 

1955

Portugal é admitido na ONU. É criado o Pacto de Varsóvia, por oposição à NATO, fundada em 1949.

1957

V congresso do PCP no Estoril, que ficou conhecido como o da “desestalinização”. É adoptada a “solução pacífica” de transição para o socialismo, imposta pelo PCUS, de Krutchov.

1958

PCP apoia candidatura presidencial de Arlindo Vicente, mas desiste a favor de Humberto Delgado, na linha da “solução democrática e pacífica” preconizada por Fogaça. Candidato do regime, Américo Tomás, ganha.

1959

O “golpe da Sé”, de militares e civis católicos, com o apoio do PCP, fracassa.

03.01.1960

Fuga da prisão de Peniche, em Janeiro, de destacados dirigentes do PCP, como Álvaro Cunhal, Carlos Costa, Jaime Serra ou Rogério de Carvalho. Em Agosto, Júlio Fogaça é preso na Nazaré, onde se encontrava com o companheiro. Na prisão, onde será condenado num segundo processo pela homossexualidade, vê o partido expulsá-lo, sob a acusação de ter posto em risco a organização clandestina.

1961

Álvaro Cunhal é eleito secretário-geral do partido. Passa a viver no exílio, nos países do Bloco de Leste. É eleito secretário-geral do PCP. Confirma-se a derrota da linha do chamado “desvio de direita”, protagonizado por Júlio Fogaça. Dirigentes comunistas hão-de fugir da prisão de Caxias, no Chrysler de Salazar, deixando para trás Fogaça, que cerca de um ano antes era o líder de facto do partido. Falha o chamado golpe Botelho Moniz, é desviado o paquete Santa Maria, por Henrique Galvão. Começa a Guerra Colonial, em Angola.

1963

Cisão no movimento comunista português, devido ao conflito sino-soviético. Nasce o Comité Marxista-Leninista Português (CMLP).

1964

Comité central do PCP reúne-se em Moscovo, onde Cunhal apresenta o relatório mais tarde baptizado Rumo à Vitória. Dissidência de Francisco Martins Rodrigues, considerado o precursor do maoismo em Portugal, que cria a Frente de Ação Popular (FAP) e mais tarde o PCP (ml). É criada a estrutura armada do PCP, a ARA - Acção Revolucionária Armada.

1965

O PCP aprova no VI congresso o programa do partido para “a Revolução Democrática e Nacional”. Ruptura com tendência maoista, de extrema-esquerda.

1970

Morte de Salazar, que sofrera lesões graves ao cair de uma cadeira dois anos antes e fora substituído por Marcelo Caetano. A ARA faz a primeira acção, um atentado contra um navio que ia partir para África com armas. Júlio Fogaça sai da prisão. 

25.04.1974

O Movimento das Forças Armadas (MFA) derruba o Governo liderado por Marcelo Caetano e o Estado Novo. Álvaro Cunhal regressa a Portugal em 30 de Abril. PCP e Cunhal participam em sucessivos governos provisórios.

Foto
DR

1975

A forte influência do PCP no Período Revolucionário em Curso (PREC) não se reflecte nos resultados das eleições para a Constituinte, nas quais o partido  elege apenas 30 deputados. O PS vence, com 116, e o PPD (futuro PSD) elege 81. A revolução está nas ruas, inicia-se a Reforma Agrária, com a ocupação de terras no Alentejo e Ribatejo.

25.11.1975

Confronto do grupo dos “moderados” com a “esquerda militar” põe fim ao PREC e ao “Verão Quente”, consagrando a vitória do modelo de democracia representativa. Melo Antunes, do Conselho da Revolução, diz que o PCP deve continuar na legalidade por ser “indispensável” à democracia portuguesa.

1976

Ramalho Eanes vence as presidenciais à primeira volta com 61,6%. Octávio Pato, do PCP, fica com 7,6% dos votos, atrás de Otelo (16,5%) e de Pinheiro de Azevedo (14,4%). Realiza-se a primeira Festa do Avante!.

1980

Morre Júlio Fogaça, que passou 18 anos nas prisões políticas, e foi apagado da história do PCP

1986

PCP apoia Mário Soares na segunda volta das presidenciais.

1987

Contestação interna no PCP. O “grupo dos seis”, de Vital Moreira, Veiga de Oliveira, Silva Graça, Sousa Marques, Vítor Louro e Dulce Martins, entrega documento à direcção para pedir mudanças no partido. Cunhal recusa quaisquer alteração de rumo. MDP rompe com APU (Aliança Povo Unido) e PCP e PEV criam a Coligação Democrática Unitária (CDU).

1988

Grupo da “Terceira Via” também pede mudanças numa altura em que Gorbachev já tinha lançado a Perestroika na URSS. Contestatários são afastados do comité central.

1989

A coligação PS-PCP, liderada por Jorge Sampaio, conquista Câmara de Lisboa.

1990

O PCP faz o seu XII congresso (extraordinário), em Loures, um ano após o fim da URSS e a queda dos regimes comunistas de Leste. Faz uma análise às causas do “fracasso de um ‘modelo’ que representou o afastamento dos ideais do socialismo”, mas “reafirmou” a sua “profunda confiança e convicção no valor, actualidade e projecção dos ideais comunistas”. Álvaro Cunhal continua à frente do partido. Carlos Carvalhas é eleito secretário-geral adjunto. Zita Seabra é expulsa do PCP.

Foto
Adriano Miranda

1991

Fracassa golpe de Estado na URSS para derrubar Gorbachev, que teve, num primeiro momento, o apoio do PCP. Em Novembro, o comité central expulsa Barros Moura, Mário Lino e Raimundo Narciso por “actividades fraccionárias”. Carvalhas obtém 12,8% nas presidenciais.

1992

Cunhal deixa a liderança do PCP, Carvalhas assume o cargo de secretário-geral.

1998

Comité central lança o “Novo Impulso”, que, na prática, acabaria com os chamados “controleiros”. A proposta caiu no congresso, dois anos depois.

2000

Cunhal não participa no XVI congresso, por questões de saúde, mas envia mensagem em defesa da linha marxista-leninista e do centralismo democrático e trava quaisquer mudanças estratégicas do partido.

2002

Comité central ratifica a expulsão de Edgar Correia e Carlos Luís Figueira e a suspensão, por 10 meses, de Carlos Brito. É lançado o movimento Renovação Comunista.

2004

Jerónimo de Sousa é eleito secretário-geral do PCP.

12.06.2005

Morte de Álvaro Cunhal, aos 91 anos. O funeral, em Lisboa, reuniu milhares de pessoas. O PS, de José Sócrates, consegue a sua primeira maioria absoluta.

Foto
Adriano Miranda

2006

Jerónimo de Sousa recolhe 8,5% nas presidenciais, que Cavaco Silva vence.

2011

6 de Abril - José Sócrates anuncia ao país que Portugal pediu auxílio financeiro internacional. Programa de austeridade acordado com a troika (FMI-BCE-UE) já será aplicado pelo Governo PSD/CDS-PP, dado que o PSD vence as legislativas de 5 de Junho.

2015

A coligação PSD/CDS-PP vence as legislativas com 36,83% dos votos, mas há uma maioria de esquerda na Assembleia da República, com o PS (32%), BE (10%), e PCP-PEV (8%), que abre caminho a um acordo parlamentar inédito, que ganha a alcunha “geringonça”.

Foto

2019

O PS vence as legislativas de 6 de Outubro, com 36%, mas não assina novas “posições conjuntas”, nem formaliza qualquer acordo com os ex-parceiros de “geringonça”.

PÚBLICO -
Aumentar
Sugerir correcção
Ler 1 comentários