Adeus a Ferlinghetti

Poeta, editor e activista eternamente fixe. Mais ninguém na literatura americana combateu o sistema ao longo de tanto tempo como ele, que lutou contra o poder justamente enquanto poeta, enquanto livreiro e enquanto editor.

Foto
Gezett/ullstein bild via Getty Images

Não tomámos o caminho pela ponte. Foi uma surpresa. Lembro-me de pensar que íamos ver a Transamerica Pyramid a perfurar o nevoeiro, ou a baía a cintilar ao longe. Em vez disso, quando visitei São Francisco pela primeira vez, nos anos 80, chegámos pelo túnel. O comboio vindo de Berkeley atirou-nos para o coração da Baixa, barulhento e agitado. Foi em 1984, a cidade estava à beira do colapso, com a sida num ponto crítico e a administração Reagan a assobiar para o lado. Avançávamos a custo por Kearny Street, eu e a minha família, obrigados a parar a cada meia dúzia de passos. Homens em farrapos pediam-nos dinheiro, comida, qualquer coisa. Continua a haver muita indigência na cidade, hoje em dia; a riqueza tecnológica apenas se move em torno dela. Para o meu olhar de criança, nesse dia, a visão foi apocalíptica. Como é que uma cidade podia fingir que não estava a colapsar?

Os leitores são a força e a vida do jornal

O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.
Sugerir correcção
Comentar