“Não terei uma vida mais sossegada no dia em que deixe de haver pessoas infectadas”

As lições da crise, os receios e as expectativas do futuro, a política, a economia ou as feridas da memória histórica numa grande entrevista de António Costa.

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Nuno Ferreira Santos

O primeiro-ministro foi convocado para a série de entrevistas e debates sobre “O Mundo de Amanhã”, enquadrada no aniversário do PÚBLICO, e, em vez de exibir uma faceta de “optimista crónico e por vezes irritante”, como o definiu o Presidente da República, revelou-se optimista, mas renitente. Se acredita que daqui a cinco anos “Portugal estará mais perto da Alemanha do que estava há cinco anos”, reconhece também que não terá “uma vida mais sossegada no dia em que deixe de haver pessoas infectadas”. As incertezas quanto ao futuro são pois enormes, os desafios para recuperar a economia serão imensos, sem que o país “tenha uma segunda oportunidade” para aplicar as verbas da União Europeia.

Numa entrevista virada para o futuro, o primeiro-ministro dá conta da resposta dos portugueses à pandemia, dizendo que houve tantos exemplos de responsabilidade colectiva que é possível extrair deles motivos para reforçar a sua auto-estima. Mas a crise revelou igualmente vulnerabilidades: na precariedade e desregulação do mercado de trabalho. Ou no planeamento deficiente do território que tornou partes do país mais vulneráveis à covid-19. Num ponto António Costa não hesita: a crise mostrou a importância do Estado social. E, por oposição, revelou o “falhanço” das visões neoliberais.

Confiante na União Europeia, que aprendeu com a crise da dívida, confiante no estado de desenvolvimento da economia privada, o primeiro-ministro defende o Plano de Recuperação e Resiliência que entregou a Bruxelas. Nega que o grosso das suas verbas vá para o Estado, dizendo que a fatia principal dos investimentos inscritos na procura pública será executada pelos privados. Não recusa, porém, o papel do Estado como agente na economia, dando como exemplos os iPhone, ou, no caso português, no sucesso da JP Sá Couto, que lançou os computadores Magalhães.

Sobre o sistema político António Costa não vê mudanças de fundo que o façam temer cenários de instabilidade – mas vai dizendo que o país não se pode dar ao luxo de as provocar e ter de gerir, face aos desafios do futuro. Da mesma forma, o “fenómeno” André Ventura não o preocupa em excesso. Diz que o líder do Chega “não tem credibilidade” ou que não é expressão de uma extrema-direita profunda, como Marine Le Pen, por exemplo. Preocupa-o, sim, a “fractura perigosa” que o debate sobre o racismo ou a memória histórica pode causar na identidade nacional. Ele, que assume falar com a voz da experiência de “pessoa de origem indiana”, anuncia que, “felizmente”, “nem André Ventura nem Mamadou Ba representam aquilo que é o sentimento da generalidade do país”.

Uma entrevista longa a ser lida na edição impressa especial de sexta-feira, dirigida pelo cientista Manuel Sobrinho Simões, e a partir da meia-noite na edição online (reservada a assinantes do PÚBLICO).

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