TAP: Entre o caos e o abismo

Ao contrário do spin do Governo, o “Estado não salvou a TAP”, o Estado nacionalizou a TAP. Quem verdadeiramente vai salvar a TAP são os contribuintes que lá vão injetar cinco mil milhões de euros, tanto quantas foram as ajudas no último ano às famílias e às empresas no âmbito da recuperação da covid.

O acordo de emergência com os sindicatos é um passo muito importante para a autorização do resgate à TAP por parte da Comissão Europeia.

Neste contexto, compreende-se que lá para as bandas do Largo do Rato se tenham estourado foguetes e aberto garrafas de champanhe, tal foi o alívio do ministro Pedro Nuno Santos, que faz depender o seu futuro político do possível sucesso deste acordo em Bruxelas.

Mas, objetivamente, ao contrário do spin do Governo, o “Estado não salvou a TAP”, o Estado nacionalizou a TAP. Quem verdadeiramente vai salvar a TAP são os contribuintes que lá vão injetar cinco mil milhões de euros, tanto quantas foram as ajudas no último ano às famílias e às empresas no âmbito da recuperação da covid.

Este colete de forças a que está sujeita a TAP é resultado em grande medida da forma despropositada como o Governo interferiu e alterou o modelo de gestão da empresa. Os sucessivos anúncios do ministro, ainda antes da pandemia, que a empresa estava tecnicamente falida destruiram a reputação da transportadora.

O transporte aéreo é uma atividade extremamente competitiva, com margens de lucro entre 3 a 5% no máximo. Quando dá prejuízos, são gigantescos, quando dá lucro este é sempre reduzido. Trata-se de um negócio, altamente especializado, direcionado para o mercado.

Assim importa refletir sobre que TAP vamos ter e em que condições ela pode vir a sobreviver.

A TAP compete com empresas que operam com custos muito mais baixos em mercados muito maiores. Assim o tamanho da TAP, no futuro, será aquele que o mercado e a gestão mais ou menos eficiente ditarem.

Ora, não existe nenhum caso de sucesso, no mercado liberalizado, de Estados soberanos a gerirem empresas de aviação. Receio, por isso, que esta intervenção do Estado na TAP leve de novo, como no passado, ao acumular de prejuízos.

Está explicito no acordo de emergência que a companhia emagrece agora, para ultrapassar a crise, mas volta a engordar em 2025.

Numa empresa bem gerida, eficiente e produtiva, este encolher é uma alavanca para mais tarde a empresa recuperar as suas quotas de mercado.

Mas na TAP, com a sua natureza agora estatal e com o ministro Pedro Nuno Santos investido na figura do “El Comandante”, imbuído dos seus preconceitos ideológicos, é provável que as opções de gestão não correspondam estritamente a decisões racionais de mercado e, consequentemente, depois de os contribuintes colocarem cinco  mil milhões de euros, teremos um de dois resultados:

  1. Ficamos com uma TAP irrelevante, isolada e amarrada a um processo doloroso de reestruturação, que a prazo perde os seus principais mercados, sem possibilidade de o Estado colocar mais dinheiro publico, nos próximos dez anos;
  2. Ou, em última instância, a TAP entra no processo de consolidação do transporte aéreo na Europa encontrando uma parceria, hipótese remota depois de termos assistido a uma cruzada ideológica do ministro a expulsar literalmente o acionista privado, o único que percebia de aviação. Depois disto, muito dificilmente um investidor confiará no Estado Português, enquanto cumpridor dos acordos celebrados.

O Governo, com o intuito de esconder as más decisões de renacionalização da TAP, aproveitou a pandemia para legitimar a colocação deste montão de dinheiro na TAP, afirmando que se trata de um investimento estratégico, pelo que a TAP não pode falir custe o que custar.

Como é evidente, se a empresa não for autossuficiente, não der lucro, não corrigir os procedimentos que conduziram a erros crónicos de gestão, não consegue sobreviver a prazo. Não há milagres.

Face às exigências do mercado da aviação é muito importante que se esclareça, quanto antes, sobre que garantias tem os contribuintes de que os cinco mil milhões de euros lá injetados vão ser recuperados e que, no futuro, a TAP vai ser solvente e sustentável, apenas dependendo de si própria. Não é aceitável que os trabalhadores e as suas famílias voltem à circunstância de terem as suas vidas em suspenso.

Por tudo isto, manda a prudência que o Governo não faça festa política com o acordo alcançado, tanto mais que se aproveitou da especial fragilidade da empresa e dos trabalhadores, sabendo que os sindicatos estavam entre a espada e a parede – e, obviamente, entre o abismo e o caos, optaram pelo caos.

Vamos aguardar a resposta de Bruxelas! Não vai ser fácil a vida para a TAP!

Deputado do PSD

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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