Mapa para eleições livres (de extremismo)

Nunca foi tão importante ouvir a população, como em sessões digitais de auscultação dos munícipes para elaboração de um programa eleitoral inclusivo.

Confinamento, ansiedade, índice de democracia que desce, polarização do discurso na defesa de uma identidade confundida pela portugalidade definida pela doutrina do Estado Novo, aumento da impulsividade e agressividade, desemprego, crise e desilusão. São estas as condições para mais um processo eleitoral, desta feita para os órgãos de maior proximidade com a população: as autarquias.

E se, durante a campanha eleitoral para as Presidenciais, já assistimos a situações de discurso polarizado, ouvindo portugueses a criar uma falsa dicotomia entre cidadãos de um mesmo país, para apelar a uma noção de identidade ameaçada, quando o verdadeiro perigo está na criação dessa divisão de todo um povo e esse não vai medir esforços para continuar a “dividir para reinar”.

O eng. António Guterres no seu papel de Secretário-Geral das Nações Unidas tem vindo a alertar para os desafios mais prementes na sociedade atual. E foi nessa condição que alertou para a ascensão do extremismo violento em tempos de crise, incerteza e dificuldades várias que impossibilitam o sentimento de pertença.

Há nove pontos neste mapa para eleições livres de extremismo: compreender e avaliar os fatores que aproximam e afastam do discurso extremista, identificar o público-alvo, identificar a narrativa extremista (implícita ou explícita) a prevenir, estabelecer objetivos claros da estratégia de contra-narrativa, eleger um mensageiro eficiente, desenvolver o conteúdo e lógica da mensagem a passar, identificar os meios para disseminação da mensagem, criar a estratégia de disseminação, e avaliar o impacto da contra-narrativa. Em cada um deles, para atrair aqueles que estão vulneráveis à radicalização, é fundamental compreender as suas motivações nas componentes psicológica, económica, social e política.

Importa ter noção de que qualquer pessoa pode aderir a um movimento extremista e que a presença de um discurso polarizado aumenta a probabilidade de extremar posições, principalmente para aqueles que veem a sua vida fora do percurso idealizado e se percebem impossibilitados de ser a mudança que querem ver na sua vida. Importa, ainda, ter em mente a maioria silenciosa, personificada na abstenção. Este será o eleitorado mais desejado por todos, com um perfil bem definido, composto por jovens e jovens adultos com idades compreendidas entre os 18 e os 44 anos, solteiros e/ou desempregados, sem crenças religiosas.

Nunca foi tão importante ouvir a população, como em sessões digitais de auscultação dos munícipes para elaboração de um programa eleitoral inclusivo, baseado nas reais necessidades da população e focado na sustentabilidade das medidas adotadas, com programas de inovação social consequentes e que promovam a cidadania participativa e crítica.

Chegar ao público-alvo deve ser um objetivo cuidado, com a adaptação da linguagem às diferentes plataformas utilizadas (privilegiando as digitais). Estes passos são essenciais no estabelecimento da confiança com a lista candidata neste longo caminho a percorrer, principalmente porque a descrença e desconfiança nas instituições políticas graça também devido à reação de stress agudo durante a pandemia.

Por sua vez, a análise das redes sociais e o fact-checking deve ser uma constante, podendo mesmo desenvolver um momento semanal dedicado a contrariar e prevenir a desinformação. Também a transparência deve ser uma palavra de ordem ao longo deste processo eleitoral, assumindo a responsabilidade que se teve em cada projeto passado e esclarecendo a responsabilidade que se assume nos projetos futuros.

Cada vez mais, a candidatura para eleições deve ser feita por indivíduos com um grande sentido de serviço à comunidade, comprovada participação ativa na comunidade e comprovada literacia política. Por sua vez, a lista deve ser amplamente inclusiva, com pessoas dos diversos quadrantes socioeconómicos, representação dos diversos grupos étnicos que habitam no município, equilibrada quanto ao género e idade. Tem de ser uma lista do município, para o município, com um programa elaborado com os munícipes.

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