Covid-19: variante detectada no Brasil é mais transmissível e evade-se do sistema imunitário

Os cientistas concluíram também que a nova variante é capaz de fugir ao sistema imunitário e causar uma nova infecção em parte dos indivíduos antes infectados pelo vírus SARS-CoV-2.

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Cemitério do Parque Taruma (em Manaus, Brasil) com mortos de covid-19 Bruno Kelly/Reuters

A nova variante da covid-19 detectada no Brasil, P.1, poderá ter uma carga viral até dez vezes mais elevada e é capaz de iludir o sistema imunitário de quem já possuía anticorpos, revelam dois estudos preliminares.

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A nova variante da covid-19 detectada no Brasil, P.1, poderá ter uma carga viral até dez vezes mais elevada e é capaz de iludir o sistema imunitário de quem já possuía anticorpos, revelam dois estudos preliminares.

“Provavelmente, faz as três coisas ao mesmo tempo: é mais transmissível, invade mais o sistema imunitário e deve ser mais patogénica”, disse à agência espanhola Efe Ester Sabino, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do grupo da USP que participou na investigação realizada pelo Centro Brasil-Reino Unido para a Descoberta e Diagnóstico de Arbovírus (CADDE).

O estudo preliminar, realizado por investigadores brasileiros e ingleses e divulgado na última sexta-feira, sugere que a nova variante detectada no estado do Amazonas seja entre 1,4 e 2,2 vezes mais transmissível do que as que a precedem e “provavelmente” isso é um dos factores responsáveis pela segunda vaga da pandemia do novo coronavírus no Brasil.

Os cientistas também concluíram que a nova variante é capaz de se evadir do sistema imunitário, concretamente entre 25 e 61%, e causar uma nova infecção em parte dos indivíduos já infectados pelo SARS-CoV-2.

“Não se podem explicar tantos casos a não ser pela perda de imunidade”, disse Ester Sabino, que coordenou o estudo juntamente com o investigador Nuno Faria, da Universidade de Oxford.

O estudo preliminar, baseado num modelo matemático realizado pelo Imperial College de Londres, baseia-se na análise de genomas de 184 amostras de secreção nasofaríngea de pacientes diagnosticados com covid-19 em laboratórios de Manaus entre Novembro de 2020 e Janeiro de 2021.

A capital do Estado do Amazonas, Manaus, foi um dos focos da pandemia no Brasil, quer na primeira, quer na segunda vaga da pandemia, e vive um colapso do sistema de saúde desde o final do ano passado devido à explosão de casos e de internamentos por covid-19.

A investigação, que teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), ainda não foi revista por outros cientistas ou publicada em revistas científicas, mas está disponível online.

Da mesma forma, um outro estudo também divulgado na última sexta-feira por investigadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) na região amazónica indica que a carga viral no corpo de indivíduos infectados com a P.1 pode ser até dez vezes maior.

O Brasil, um dos países mais atingidos pela pandemia no mundo, acumula 10.587.001 infecções desde o registo do primeiro caso da doença, em 26 de Fevereiro do ano passado, e 255.720 mortes. Esses números confirmam o Brasil, com os seus 212 milhões de habitantes, como um dos focos globais da covid-19 e como o segundo país com mais mortes pela doença no mundo, superado apenas pelos Estados Unidos, e como o terceiro com mais infecções, atrás do país norte-americano e da Índia.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.531.448 mortos no mundo, resultantes de mais de 114 milhões de casos de infecção.