Por que razão o Governo não abre as escolas? Eu explico

As escolas continuam fechadas sobretudo porque, à parte os planos de contingência efetuados pelos seus professores, mais nada foi programado ou planeado pelo Governo.

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Paulo Pimenta

Leio com frequência os textos do João Miguel Tavares (J.M.T.), mas desta vez achei curioso o argumento que o levou a escrever este texto. Em síntese, diz J.M.T., as escolas continuam fechadas para manter os pais dentro de casa. Concordo! Essa será uma das razões. Com as escolas abertas, estamos a falar da movimentação de cerca de um quarto da população. Mas não é o único, como, aliás, acaba por referir o autor no mesmo texto. A ser verdade, que o Governo apenas se foque nesta premissa, é factual que está a ignorar todos os outros problemas da escola. Quais? Eu explico.

As escolas continuam fechadas sobretudo porque, à parte os planos de contingência efetuados pelos seus professores, mais nada foi programado ou planeado pelo Governo.

Em maio, quando reabriram escolas para o secundário, pré-escolar e creche, foram vários os que começaram a alertar para o problema de iniciarmos o ano letivo 2020/2021 sem planeamento. Faço questão de deixar aqui algumas sugestões que então foram expostas:

  • Reduzir o número de alunos por turma;
  • Aumentar proporcionalmente o número de professores;
  • Criar turnos duplos em todas as escolas; (manhã / tarde);
  • Complementar o presencial com o ensino à distância com turnos quinzenais;
  • Garantir a distribuição de máscaras à comunidade;
  • Criar sistema de monitorização periódica da temperatura corporal;
  • Fazer testes à covid
  • Definir bem o papel de cada entidade no que toca à responsabilidade no cumprimento do estabelecido (Ministério da Educação e câmaras municipais);
  • Início faseado, começando pelos mais novos;
  • Reforço dos transportes públicos.

Destas soluções, o Governo entendeu que nenhuma faria sentido ou simplesmente considerou que o custo/benefício não se justificava. Na teoria, havia liberdade para o desdobramento de turmas, mas, na prática, esses pedidos eram recusados. Com a retórica da autonomia das escolas e como as escolas não são nem a TAP nem o BES, o Governo terá preferido entregar máscaras aos docentes, criar regras de distanciamento específicas para as salas de aula, ignorando assim a regra dos 3C (close contacts, close spaces e crowded spaces, ou seja, evitar contactos próximos, espaços fechados e multidões) que ia aplicando aos demais setores da sociedade.

Juntando, a essa falta de planificação, a forma como “sempre que possível” truncava os dados relativos aos casos de infeção que iam acontecendo nas escola, tendo sido intimados pelo tribunal a mostrar os verdadeiros, temos tudo para que agora o receio de abrir seja maior. Disse-o aqui, mas repito. O desgaste de ensinar neste sistema de ensino remoto começa a ser evidente nos alunos, professores e pais. Arrisco-me a dizer que todos queremos regressar à escola. É factual que o ensino à distância (E@D) não substitui o ensino presencial e que isso se nota sobretudo nos alunos mais novos. Mas daí a precipitarmo-nos a reabrir as escolas sem plano nenhum, parece-me muito tosco!

É unânime que as escolas são, de facto, o principal suporte socioeconómico. Não seria, portanto, de esperar que os colunistas/especialistas e todos aqueles que gostam de comentar a Educação referissem a importância de priorizar a vacinação de todos os grupos profissionais que todos os dias estão na escola? Para todos os serviços que se quer em funcionamento a melhor medida a adotar é vacinar, basta ver o que fazem os outros países por esse mundo fora. Em Itália, por exemplo, acelerou-se a vacinação a professores. Na Alemanha, a chanceler Merkel também já veio dizer que a prioridade deve ser professores do 1.º ciclo e educadores.

Reabrir as escolas e fazer regressar os alunos, pelo menos até ao 1.º ciclo, ao ensino presencial devia ser um objetivo primordial por parte do Governo, mas para isso seria necessário que se cumprissem determinados pré-requisitos já por aqui elencados.

(A proximidade do título ao último artigo de J.M.T. é propositado e tem como principal objetivo ajudar à retórica do autor.)


O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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