Desastre da Brumadinho foi provocado pela empresa Vale, diz polícia brasileira

A ruptura da barragem que a empresa usava para armazenar resíduos ocorreu devido a uma série de perfurações verticais realizadas dias antes da tragédia que matou 270 pessoas.

Foto
Antonio Lacerda/EPA

O rompimento de uma barragem que matou 270 pessoas no município brasileiro de Brumadinho, em 2019, foi provocado por decisões da empresa Vale, conclui um relatório da Polícia Federal apresentado neste sábado.

A perícia contradiz parcialmente a versão da Vale, a maior produtora e exportadora de ferro do mundo, e sustenta que a ruptura da barragem que a empresa usava para armazenar os resíduos minerais ocorreu devido a uma série de perfurações verticais realizadas dias antes da tragédia.

Segundo a Vale, o rompimento da barragem, que gerou uma onda de resíduos que cobriu milhares de hectares e deixou 259 mortos e 11 desaparecidos há dois anos, foi causado por uma mistura de factores, como o peso elevado da estrutura e as fortes chuvas que caíram naquela semana.

No entanto, a Polícia Federal diz que a Vale contratou uma empresa para avaliar o estado da barragem, a fim de instalar novos equipamentos para medir a pressão interna da barragem.

A empresa contratada, cujo nome não foi revelado pelas autoridades, apresentou um relatório com os resultados do estudo, mas, segundo as autoridades brasileiras, a Vale não fez uma análise aprofundada do mesmo e começou a perfurar em alguns pontos do local onde os resíduos estavam sedimentados.

Cinco dias antes da tragédia, perfuraram um local considerado crítico da barragem, atingindo uma profundidade de 68 metros, que deu início a um processo de liquefacção dos resíduos minerais que se estendeu por toda a represa.

Esse processo de liquefacção, no qual o material passa do estado sólido para o líquido, ocorreu de forma muito rápida e devido ao movimento causado pelas perfurações, segundo os investigadores.

“A liquefacção processa-se de forma tão rápida que se formou 30 segundos antes da ruptura. Os instrumentos (de monitorização) não conseguiram capturá-la”, explicou o especialista federal Leonardo Mesquita de Souza, responsável pelo relatório, em conferência de imprensa,

O aumento do volume líquido pressionou excessivamente a barragem, cuja estrutura “em geral” já era “frágil” por si só, para vir a ruir logo em seguida, segundo Mesquita De Souza.

“Houve um atropelo. A Vale deveria ter verificado primeiro o diagnóstico da empresa contratada”, disse aos jornalistas o comissário encarregado da investigação, Luiz Augusto Pessoa.

O relatório poderá servir para o Ministério Público apresentar uma acusação criminal contra os possíveis responsáveis pelo desastre.

Numa primeira fase da investigação, em 2019, a Polícia Federal moveu acções contra um grupo de executivos da Vale e da empresa alemã Tüv Süd por atestar, de forma fraudulenta, a segurança da barragem.

A empresa mineira Vale informou, em comunicado, que “avaliará” o conteúdo do relatório pericial apresentado neste sábado e “oportunamente se manifestará nos autos por meio” dos seus advogados.

Na esfera cível, a gigante da mineração acordou este mês com o Ministério Público o pagamento de 37.689 milhões de reais (5,57 mil milhões de euros) como indemnização pelos danos causados em Brumadinho.

A ruptura da barragem causou um mar de lama que, em questão de segundos, enterrou residências próximas e parte das próprias instalações da empresa.

Outro episódio semelhante ocorreu no final de 2015 em Mariana, município que, assim como Brumadinho, também fica no estado de Minas Gerais e onde a ruptura de outra barragem da mineira Samarco, controlada pela Vale e pela BHP Billiton, causou 19 mortes e uma gigantesca tragédia ambiental.

Sugerir correcção
Comentar