Mehdi Taremi, muito mais do que influencer

Com quase meia centena de internacionalizações pelo Irão, o avançado do FC Porto já mostrou que os 4,725 milhões investidos pelos portistas na sua contratação foram um excelente negócio.

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LUSA/FERNANDO VELUDO

Quando Mehdi Taremi chegou a Portugal, há pouco mais de ano e meio, muitos dos artigos sobre a nova contratação do Rio Ave detalhavam mais a influência do avançado nas redes sociais do que o seu percurso como futebolista. Os mais de dois milhões de seguidores no Instagram eram notícia - o Persepolis, onde o atacante jogou três épocas e meia, tem mais de 30 milhões de adeptos -, mas Taremi já tinha currículo suficiente para que se questionasse a capacidade que um clube da “classe média” portuguesa tinha para garantir um reforço com tantos predicados. Taremi, no entanto, precisou apenas de um jogo para confirmar o acerto do scouting vilacondense - hat-trick na estreia a titular na I Liga -, e, após meio ano no “Dragão”, já há poucas dúvidas que os 4,725 milhões investidos pelo FC Porto terão alta rentabilidade.

A história da chegada de Taremi a Portugal já foi contada por Carlos Carvalhal. Apesar de ter festejado o primeiro golo em solo português ao fim de seis minutos - contra a Oliveirense, na Taça de Portugal, entrou aos 64’ e marcou aos 70’ -, Taremi começou por ser suplente de Bruno Moreira no Rio Ave. Porém, ao terceiro jogo oficial da época 2019-20, Carvalhal ofereceu a titularidade ao iraniano. E a impressão digital do avançado persa ficou bem vincada na partida: três golos e um penálti sofrido na goleada (5-1) frente ao Desp. Aves. 

No final do jogo, Carvalhal, que esta temporada como treinador do Sp. Braga já sofreu dois golos do iraniano, confessou que a chegada de Taremi a Vila do Conde tinha sido um “mero acidente”: “Não era um jogador que [em condições normais] tivéssemos possibilidade de conseguir. Veio pela minha capacidade de persuasão e do André Vilas Boas [director desportivo], pela ajuda do Carlos Queiroz [na altura seleccionador do Irão] e do seu tradutor. Abdicou de muito dinheiro para vir para o Rio Ave e para se mostrar na Europa. Como posso dizer isto para que possam entender? Ele [no Qatar] ganhava 10 e veio ganhar 1,5.”

A análise de Carvalhal a um “avançado muito especial”, continuou com elogios - “Tem uma grande capacidade de finalização, velocidade, capacidade de desmarcação, mostra tranquilidade a jogar e é forte no jogo aéreo” – e prosseguiu com a previsão de um futuro de sucesso: “Merece o que lhe aconteceu e o que vai acontecer durante toda a época. É jogador para outros voos.”

Carvalhal não se enganou. Ao fim de uma época onde foi fundamental para o apuramento do Rio Ave para a Liga Europa (18 golos em 30 jogos na I Liga), teve “ofertas do Benfica e do Sporting”, palavras do jogador este mês em entrevista à revista Dragões, mas optou pelo “FC Porto porque é uma equipa muito forte e famosa. É a equipa campeã, joga na Liga dos Campeões, ganha troféus. Era o meu sonho”.

A previsão de Carvalhal sobre o impacto de Taremi em Portugal não era, no entanto, um “tiro no escuro” do experiente treinador. Apesar de ter chegado à Europa com 26 anos, o melhor marcador da I Liga 2019-20 já tinha um percurso sólido construído no seu país. Depois de passar por clubes de menor dimensão (Shahin Bushehr e Iranjavan), Taremi assinou no verão de 2014 um contrato de dois anos com o todo-poderoso Persepolis e, mesmo sem ser campeão nessa época com o clube de Teerão, foi considerado o melhor avançado do campeonato. No ano seguinte, a nível colectivo o resultado voltou a não ser o melhor (2.º lugar), mas a título individual o sucesso foi total: melhor jogador e melhor marcador do campeonato iraniano.

Em final de contrato, Taremi parecia destinado a entrar na Europa pela porta mais próxima (Turquia), mas depois de acertar contrato com o Çaykur Rizespor, voltou atrás e optou por permanecer no Persepolis. Os turcos apresentaram queixa na FIFA, alegando incumprimento de contrato, e, durante a época 2017-18, Taremi foi dado como culpado e suspenso por quatro meses.

O castigo e uma mudança em Janeiro de 2018 para o Qatar, onde foi colega de Diogo Amado e de Wesley Sneijder no Al Gharafa, não beliscaram o estatuto de Taremi no Irão e a confiança de Queiroz no avançado. Peça importante para o treinador português na competente selecção iraniana, o “9” do FC Porto foi, sem surpresa, convocado para o Mundial 2018, onde, com Pepe como adversário, ficou a centímetros de eliminar Portugal: titular contra a selecção nacional, Taremi teve nos pés o golo da vitória dos iranianos no minuto 94 da última partida do Grupo B, mas o remate, que se entrasse afastava a equipa portuguesa, acertou nas redes laterais da baliza de Rui Patrício.

Hoje, no Estádio do Dragão, 979 dias depois dessa partida em Saransk, Pepe terá o melhor avançado da I Liga em Dezembro e Janeiro do seu lado, e será outro defesa central que terá motivos para preocupações. Apesar de não ter marcado nos dois duelos do Rio Ave com o Sporting na época passada, a exibição de Taremi no jogo de Alvalade ficará, certamente, associada a um dos capítulos mais negros da carreira de Sebástian Coates: nesse jogo, que os vilacondenses venceram (2-3), o uruguaio cometeu três penáltis e acabou expulsão, sempre com faltas “sacadas” com mestria pelo iraniano.

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