Milenar tesouro andaluz que chegou a estar à venda na Internet brilha agora no Museu de Córdova

Polícia Nacional da Andaluzia recuperou este achado no ano passado.

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A Estrela de David do Tesouro da Amarguilla Museu de Arqueologia de Córdova

A história deste tesouro está verdadeiramente ainda por contar, mas os visitantes do Museu Arqueológico de Córdova (MAC) vão poder conhecer de perto, até 6 de Junho, as peças mais relevantes do conjunto As Jóias de Amarguilla, que designa o património recuperado no ano passado pela Polícia Nacional da Andaluzia nesta província do sul de Espanha.

A imagem forte da exposição é uma Estrela de David adornada por um anel incompleto, ambos em ouro, que levou os arqueólogos e especialistas auscultados pelo Museu de Córdova a admitir que o tesouro tenha pertencido a um judeu abastado, que o terá escondido e enterrado no início do século XI. No ano de 1009, e durante mais de duas décadas, sob o reinado de Hisham II, a Andaluzia viveu em estado de guerra civil, que no início dos anos 30 levaria mesmo ao fim do Califado de Córdova (também dito Omíada).

Terá sido nesse contexto que um rico proprietário, presumivelmente judeu, decidiu pôr em resguardo um tesouro – os arqueólogos falam também de “um enxoval”, tendo em conta a sua composição – constituído por mais de meio milhar de jóias previsivelmente do século X. Destas, o MAC mostra agora quase uma centena de peças em ouro, prata e prata dourada, braceletes decoradas com formas de aves, contas de cristal e de vidro de cores variadas e quase meia centena de pérolas, além da referida Estrela de David.

Faltam, contudo, moedas, e é esta lacuna que justifica a dificuldade em situar a origem e a época do achado. “Todos os tesouros omíadas incluem moedas, o que mostra que, neste caso, elas foram vendidas, porque se trata de um tipo de peça que tem uma saída muito fácil, ao contrário da joalharia, que nenhum antiquário ou coleccionador compraria”, disse, citado pelo El País, Alberto Conto, professor de Arqueologia da Universidade Autónoma de Madrid. O arqueólogo inclina-se, no entanto, para que o enterramento do tesouro tenha acontecido nesse conturbado início do século XI.

Também algo conturbada, e ainda não totalmente explicada, é a história do achado do Tesouro da Amarguilla. O nome vem da propriedade onde ele foi encontrado, no município de Baena, a sul de Córdova. O El País cita as investigações policiais feitas a partir da indicação de “um arqueólogo municipal de Córdova que descobriu [à venda] nas redes sociais fotografias de várias peças com possível valor arqueológico”. Daqui, chegou-se ao rasto de um indivíduo que identificou o detentor das referidas peças e que, apesar das suas “declarações não muito coerentes”, permitiu alargar a investigação aos municípios de Lucena e Luque, o que resultaria na descoberta do tesouro milenário.

O património encontrado, numa bolsa ou recipiente de cerâmica, foi depois entregue ao Museu Arqueológico de Córdova, que, durante vários meses, se ocupou do restauro de várias das suas peças, agora mostradas na exposição. “Trata-se de um dos melhores conjuntos de jóias que possuímos. A estrela de seis pontas [de David] é única. Não existe nada parecido, o que lhe confere um valor extraordinário”, disse a directora do museu, María Dolores Baena, realçando que as peças foram restauradas mediante as técnicas mais avançadas e com a preocupação de lhes devolver o aspecto original.

No comunicado de apresentação da exposição, o MAC destaca que, mesmo sem conter moedas, este é “o tesouro mais completo” da dezena e meia de colecções do género conhecidas, nomeadamente as de Charilla e Ermita Nueva, ambas em Jaén, ou a de Loja, em Múrcia.

“É simplesmente espectacular. Nunca vi nada parecido”, exclama Alberto Conto, um dos maiores especialistas da civilização Al-Andaluz.

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