Cirurgias caíram mais de 30% em Janeiro em comparação com o ano anterior

Houve quase menos 195 mil consultas e menos 21 mil cirurgias do que no mesmo período de 2020.

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O adiamento de consultas e cirurgias não urgentes levou à quebra de números de actos realizados, em comparação com o ano anterior Manuel Roberto

Desde que a pandemia chegou a Portugal, absorvendo muita da capacidade de trabalho dos profissionais do Serviço Nacional de Saúde (SNS), que os alertas ao atraso nos cuidados aos doentes que têm patologias diferentes da covid-19 não têm parado de se fazer ouvir. Os números de Janeiro sobre o número de consultas e cuidados nos hospitais públicos e as cirurgias aí realizadas não diminuem a preocupação: houve quase menos 195 mil consultas e menos 21,4 mil cirurgias do que no mesmo período do ano passado. 

Os números são da Administração Central do Sistema de Saúde e foram revelados esta sexta-feira pelo Diário de Notícias. A quebra nestes procedimentos, em comparação com Janeiro de 2020, é de 17% nas consultas e de 30,6% nas cirurgias. Nessa altura realizaram-se, segundo o DN, mais de 1,1 milhões de consultas e 63.637 cirurgias.

Em Maio de 2020, quando tinham passado pouco mais de dois meses sobre a confirmação da chegada dos primeiros casos a Portugal (identificados a 2 de Março desse ano), já se dava conta queentre 16 de Março (data em que foi suspensa a actividade programada nos hospitais para dar prioridade aos tratamentos à covid-19) e o mês de Abril, 1,4 milhões de consultas tinham ficado por fazer e 51 mil cirurgias tinham sido adiadas. Em Dezembro, divulgava-se que entre Janeiro e Outubro tinha havido menos nove milhões de consultas presenciais (médicas e de enfermagem) nas unidades de cuidados de saúde primários e menos 2,7 milhões de consultas nos hospitais.

Os dados eram do Movimento Saúde em Dia, criado pela Ordem dos Médicos e a Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, que, em comunicado, precisava: “Tal como noutros cuidados, a realização de rastreios está a ser muito afectada. Nos primeiros dez meses deste ano terão ficado por fazer 119 mil mamografias (uma queda de 16%), 81 mil rastreios do cólon e recto e houve menos 99 mil mulheres a realizar colpocitologia.”

Informações de Janeiro, do Portal da Transparência, também apontavam para a elevada quebra, embora com valores mais baixos, no caso dos hospitais. Segundo este indicador, entre Janeiro e Novembro de 2020 tinham existido menos 7,2 milhões de consultas médicas e 3,4 milhões actos de enfermagem nos cuidados de saúde primários e menos 1,2 milhões de consultas nos hospitais, tendo-se realizado menos 121 mil cirurgias do que em igual período de 2019.

Ouvido pelo DN, na edição desta sexta-feira, o presidente da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, defende que será necessário um “Plano Marshall para a saúde dos portugueses”, para recuperar do que considera uma “situação dramática”, com “repercussões brutais a nível da mortalidade e da morbilidade dos doentes.”

O representante dos médicos admite que há doentes que já não será possível recuperar, mas, mesmo assim, pede que sejam activados “todos os meios existentes no país” para tentar melhorar a situação actual. “Não há um único mês de 2020 em que a actividade de consultas presenciais nas unidades de saúde, a realização de cirurgias, de meios complementares de diagnóstico, de rastreios ao cancro, não tenha sido pior do que nos meses de 2019. O que quer dizer que em nenhum mês houve recuperação. Houve uns meses melhores, outros piores, mas não foi feita nenhuma recuperação da actividade não covid. Esta é a questão principal”, afirmou.

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