Adeus, Cais do Sodré: Jamaica, Tokyo e Europa “viram a página” e vão reabrir no Cais do Gás

Encerrados devido à pandemia há quase um ano, os clubes vão ter finalmente “espaços maiores, melhores e mais seguros” no Cais do Gás, à beira do Tejo na zona onde estão o B.Leza, Titanic e Bar do Rio. Inauguração prevista para “os últimos dois meses do ano”.

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No Jamaica do Cais do Sodré (arquivo) Rita Baleia / PUBLICO
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Rita Baleia / PUBLICO
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No Tokyo do Cais do Sodré (arquivo) Rita Baleia / PUBLICO
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Andreia Gomes Carvalho
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Andreia Gomes Carvalho

Com a área que o Jamaica, Tokyo e Europa ocupavam na “Rua Rosa” do Cais do Sodré a tornar-se hotel, e após várias indefinições sobre o seu futuro, os históricos bares vão avançar uns metros em direcção ao rio e abrir no Cais do Gás. “Até ao final do ano”, o trio da noite deverá abrir as portas, confirmou ao PÚBLICO Fernando Neto Pereira, co-proprietário do Jamaica e Tokyo que confessa deixar o Sodré com “alguma tristeza”. “Tenho 51 anos, mais dois do que o Jamaica. O meu pai foi sócio-fundador e o bar esteve sempre presente na minha vida, foi aqui que cresci, que conheci as minhas namoradas”, diz-nos”. Parte da memória de muitos lisboetas, o clube, tal como os seus vizinhos da rua Nova do Carvalho, ruma agora ao Tejo e Fernando Pereira, enquanto ainda arruma as recordações, vai já delineando o futuro, até porque é ele o arquitecto responsável pelos desenhos das futuras estruturas.

Os clubes, cujo prédio chegou mesmo a encerrar temporariamente há uma década por risco de derrocada, vão agora ter “espaços maiores, melhores e mais seguros” com dimensões e lotações máximas a praticamente duplicarem: “309 clientes no Jamaica, 235 no Tokyo e 322 no Europa”. No total, repartido em partes iguais pelos três, serão 675 metros quadrados sem que nenhum “mude de personalidade”. Fernando Pereira realça, porém, que a decisão definitiva da mudança deve-se à proposta do proprietário do prédio, a Sigmabilities, para “saída antecipada” com a “oferta de uma verba a cada uma das três casas” que dará “uma ajuda na concretização dos futuros espaços”.

Com as casas fechadas pela pandemia e o sector dos bares e discotecas a “não dever abrir antes do fim do Verão”, como antecipa Pereira, a decisão não foi difícil. “Estamos fechados, vamos estar fechados até sabe Deus quando...”, diz, realçando porém que, por exemplo, o velho Jamaica “está montado e pronto a trabalhar como na última noite em que trabalhámos, a 11 de Março” de 2020. Mas por fora, “com tudo grafitado, tudo sujo, parece uma zona fantasma. “Agora fazemos as malas e viramos a página”, remata.

Vista aérea do Cais do Gás, área dos futuros bares DR
Projecto, exterior Jamaica + Tokyo DR
Projecto, exterior Europa DR
Projecto, exterior Jamaica + Tokyo,Projecto, exterior Jamaica + Tokyo DR,DR
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Vista aérea do Cais do Gás, área dos futuros bares DR

As obras no Cais do Gás estão previstas para arrancarem agora em Março e deverão prolongar-se por “seis meses”. A data de estreia do trio deverá ser entre Outubro e Dezembro, dependendo também das decisões do Governo para o sector, mas a tempo de uma festa de passagem de ano de arromba.

Na apresentação do projecto refere-se que “a evolução resulta de um protocolo com a Câmara Municipal de Lisboa, proprietária dos armazéns (em terreno da Administração do Porto de Lisboa)”. Os clubes deverão custear “exclusivamente” os projectos de arquitectura e as obras – e pagar à CML “uma renda”, sendo que "a autarquia beneficia, em valor patrimonial e em verba, de uma cifra de 2,3 milhões de euros”. Segundo Fernando Pereira, no conjunto o investimento dos três clubes deverá atingir os 1,5 milhões de euros.

O projecto implica também que “não se aumenta a altura dos armazéns [existentes] e, aliás, eliminam-se áreas que ocupavam indevidamente o espaço público”.

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Imagem computadorizada do futuro Jamaica DR

Jamaica vai “continuar a ser o buraco escuro que é hoje"

A “personalidade” dos clubes não deve mudar, mantendo o Jamaica, casa de culto que celebra em Outubro meio século de vida, o mote dos “clássicos” e de fazer "dançar ao som dos grandes temas da pop, do rock e do reggae”. O culto ao Jamaica não se quer perdido. Passará dos actuais 60 m2 para 150 m2, refere Pereira, mas quer manter o ambiente de “clube pequeno”, “continuar a ser o buraco escuro que é hoje”, “nada de decorações fashion, nem dourados”. Para isso, contará com uma parede móvel que permitirá restringir a área em noites de menor afluência. O DJ da casa, Bruno Dias, continuará a fazer parte da mobília - é filho de Mário Dias, o dj histórico do Jamaica. Pode haver novos eventos mas continuarão as noites de clássicos, pop, rock, reggae. Passará a ter acordo com galerias de arte para intervenções de artistas plásticos no espaço.

Os três espaços serão “complementares e aproveitarão as sinergias”, tanto agora com projectos e obras, como depois. O Tokyo foca-se nos concertos ao vivo, quer tornar-se “um cartaz de referência com nomes nacionais e internacionais”, e a pista abre nos pós-concertos.

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Imagem computadorizada do futuro Tokyo DR

O Europa seguirá como clube de espírito underground e sinónimo de música electrónica, mas com pista de dança muito maior. Haverá também esplanada musical e deverá manter-se no circuito internacional Trans Europa Express, que permite um "fluxo de DJ, músicos e produtores entre Portugal e outros países”.

O que melhorará e muito, garante Fernando Pereira, nos três locais, serão as “condições físicas”. “Tudo o que era em pequeno, aumenta” e é um adeus às noites abafadas de que se lembrarão muitos dos devotos especialmente do Jamaica. O sistema de ar será high tech, com “circulação de ar fresco a 100%”, já tendo até em conta as questões aprendidas com a pandemia e “a contaminação por vírus”. O “espírito será o mesmo” nos três espaços “complementares”, mas o ar, esse, será completamente novo.

Até à abertura física, o Cais do Gás promete mostrar tudo no site que une os clubes, incluindo actualizações sobre os projectos, além de garantir a transmissão de sets de DJ com assinaturas Jamaica e Europa, e concertos programados pelo Tokyo.

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