Só 48% das microempresas dizem aguentar mais de seis meses sem apoios adicionais

Inquérito do INE e do Banco de Portugal indica que mais de 60% das empresas estão com quebras na facturação. Para a maioria, o volume de negócios está num nível igual ou superior ao do primeiro confinamento.

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Com a obrigação de encerramento, as empresas procuraram canais alternativos de contacto com os clientes Nelson Garrido

Mais de dois terços das empresas estimam “conseguir permanecer em actividade por um período superior a seis meses nas circunstâncias actuais” mesmo sem um reforço das medidas de apoio à economia, indica um inquérito rápido às empresas realizado pelo Instituto Nacional de Estatística e pelo Banco de Portugal que visou medir o impacto da pandemia nas restrições à actividade económica na primeira quinzena de Fevereiro.

Mas a realidade é mais preocupante entre as microempresas, pois só cerca de metade (48%) afirmam que sobreviveriam mais de seis meses, e cerca de um quarto (26%) estimam que só conseguiriam manter-se em actividade por um período inferior ou igual a dois meses.

O INE e o Banco de Portugal observaram “uma menor probabilidade de resposta das micro e pequenas empresas, sendo de acautelar na análise o possível enviesamento daí decorrente”.

O resultado relativo aos dois terços de empresas que estimam sobreviver mais de meio ano sem novas ajudas corresponde à percentagem de empresas que, ao serem confrontadas com a pergunta “na ausência de medidas adicionais de apoio, por quanto tempo poderá a sua empresa permanecer em actividade nas circunstâncias actuais?”, indicaram uma das respostas possíveis: “menos de um mês”; “um ou dois meses”; “de três a seis meses”; “superior a seis meses”.

No entanto, é preciso sublinhar que, nos dados brutos, 48,2% do resultado corresponde a “não sabe/não responde”; 1,3% responderam menos de um mês; 5,5% responderam que sobreviveriam um ou dois meses; 9,9%, de três a seis; e 35,1%, mais de meio ano. Considerando apenas as respostas válidas a esta pergunta (2830 empresas), verifica-se que 68% indicaram o período de sobrevivência superior a sei meses; 19% entre três e seis meses; 11% entre um a dois meses; e 2% menos de um mês.

Ao mesmo tempo, perto de um terço das empresas que registaram uma quebra na facturação na primeira quinzena de Fevereiro acreditam que o volume de negócios voltará ao normal se a pandemia ficasse controlada ainda este ano, num intervalo médio de 10,1 meses.

O INE e o BdP referem que “a percentagem de empresas que estimam conseguir permanecer em actividade por um período superior a seis meses cresce com a dimensão: 48% nas microempresas e 86% nas grandes empresas”.

Ao todo, 62% das empresas inquiridas enfrentaram na primeira quinzena de Fevereiro uma quebra no volume de negócios face ao mesmo período do ano passado. Já em relação ao primeiro confinamento, cerca de dois terços das empresas dizem que a facturação está num nível igual ou superior ao registado nessa altura (em comparação com os primeiros 15 dias de Abril do ano passado).

Ao mesmo tempo, 85% das empresas que responderam estar com um nível de facturação abaixo do primeiro confinamento apontaram “como motivo mais relevante para esta evolução o facto de o nível actual de encomendas/clientes ser inferior” ao que então se verificou.

O INE e o BdP referem ainda 69% das empresas referiram “como muito relevante o facto das actuais medidas de contenção terem um maior impacto directo sobre a actividade da empresa (no sector do alojamento e restauração esta proporção situa-se em 94%)”.

Alternativas para vender

Estima-se que 92% das empresas se mantinham em produção ou em funcionamento, mesmo que parcialmente, 7% tenham fechado temporariamente e 1% tenham encerrado definitivamente.

O INE e o BdP referem que 13% das empresas passaram a utilizar canais alternativos de contacto com os clientes em relação ao que era habitual há um ano (como as vendas online, entregas ao domicílio ou a prestação remota de serviços), fazendo com que o peso desta dimensão no volume de negócios passasse de “17% antes da pandemia para 39% durante este período”.

Há uma grande percentagem de empresas — quase dois terços — que não o fazem “porque a sua actividade não o permite”, como é o caso do sector dos transportes e armazenagem (26% “não utilizaram canais alternativos por outros motivos”).

Como os restaurantes podem fazer entregas ao domicílio, de forma directa ou através de intermediários como os estafetas associados às novas plataformas digitais, as empresas do sector da restauração e alojamento são as que mais estão a utilizar “canais alternativos de contacto com o cliente (27%)”. Seguem-se os “sectores de informação e comunicação (20%), comércio (18%) e outros serviços (15%)”.

O “alojamento e restauração é o sector com a percentagem mais elevada de empresas a beneficiarem actualmente de cada uma das medidas de apoio” público, como o “layoff simplificado (65%) e o Programa Apoiar: Apoiar.pt, Apoiar restauração e Apoiar + simples (61%)”.

É entre as maiores empresas que a percentagem em funcionamento é maior. Enquanto nas microempresas há 86% em actividade, nas pequenas e médias essa percentagem é de 93%, chegando aos 98% no caso das grandes.

Esse peso também é maior entre as empresas exportadoras do que entre as empresas que não têm um perfil ligado à venda de produtos ou serviços aos mercados externos.

Olhando para esses impactos a nível regional, os dados permitem ver que é no Algarve que a paragem é mais significativa. Enquanto nas restantes regiões a percentagem de empresas que dizem estar em actividade é sempre superior a 90%, no caso do Algarve essa percentagem é de 80% (havendo 18% que referem estar fechadas temporariamente e 2% encerradas em definitivo).

Como em Fevereiro se mantinha o dever de encerramento e suspensão de uma série de estabelecimentos, o inquérito indica que “o sector do alojamento e restauração apresenta a menor percentagem de empresas em funcionamento” (62%), havendo “36% das empresas encerradas temporariamente e 2% encerradas definitivamente”.

No comércio, 90% dizem estar abertas, 9% encerradas temporariamente e 1% encerradas em definitivo.

Questionadas sobre a evolução da facturação num cenário em que a pandemia ficaria controlada em 2021, “32% das empresas consideram que o volume de negócios voltará ao normal num intervalo médio de 10,1 meses”, havendo 10% a considerar que “não vão voltar ao nível normal”.

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