Há mais vida para além do trap no Sul dos EUA

Fumo, blues, deboche, humores e amores frustrados, eis mais um excelente disco de um veterano que é também um goofy.

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Sempre nos dois lados da moeda, o romântico e o obsceno Zach Garner

Quem hoje cria e consome o trap prêt-à-porter sofregamente importado de Atlanta terá uma pálida ideia do caminho que o Sul dos EUA fez desde os anos 80 até ao presente na conquista do panorama do hip-hop americano. Visto inicialmente como o rap de uns quantos papalvos “do campo” pelas gentes de Nova Iorque e Los Angeles, o chamado dirty south — num espectro amplo, que compreende Nova Orleães, Houston, Miami, Atlanta ou Memphis — foi-se paulatinamente afirmando à conta, por um lado, de um som distintivo (indelevelmente marcado pelo Miami Bass, até hoje influência para tudo o que gravita em torno do batidão dançante característico um dia erguido na Roland TR-808, do baile dito funk brasileiro ao reggaeton, do crunk ao trap um dia chancelado pelo álbum Trap Muzik de T.I.); e, por outro, de um versejar festivo e agressivo, frequentemente violento e misógino, e pouco ou nada caucionado pela consciência política e de denúncia de que o hip-hop da West Coast beneficiava quando igualmente atacado pela sua rudeza. Grupos como 2 Live Crew, de Miami, ou The Geto Boys, em Houston, fizeram escola, ladeados pelos 8Ball & MJG (Memphis) e, em particular, os UGK, com um som mais sofisticado e apoiado no órgão de gospel que Pimp C introduziu na cena para não mais a abandonar.

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