Festas virtuais de trabalho: o bom, o mau, o prático e o curioso

A experiência pode ser incrível para uns e traumatizante para outros. Devido à pandemia, o mercado dos eventos sociais online tem vindo a crescer como nunca. Os pedidos vão dos mais simples, como um convívio banal, até ao mais peculiar, como corridas de cavalos virtuais.

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As festas virtuais são já uma tendência que parece ter vindo para ficar Kelsey Chance/Unsplash

Festas de trabalho virtuais? Nestas, os colegas de trabalho não se podem misturar ou dançar juntos. Além disso, será muito difícil entrar num clima de disco na sala de casa, transformada em escritório. No entanto, os aspectos positivos é que não se espalham doenças, não é preciso regressar a casa, nem sempre sóbrio, e não existe qualquer hipótese de um encontro amoroso imprudente.

Na era da covid-19, as opções de festa são limitadas. Por isso, as empresas estão a virar-se para organizadores de eventos, de forma a criarem ocasiões sociais online para os seus empregados. E com o teletrabalho a parecer algo para ficar, alguns organizadores esperam que a procura se mantenha, mesmo após o fim da pandemia.

Depois de mais de um ano a trabalhar a partir de casa, Catharina Gehrke, financeira numa start-up tecnológica, conseguiu saber algumas fofocas na casa de banho e na área de fumadores virtual da sua companhia, durante a festa de Natal. O evento em que participou incluiu um trajecto de táxi e uma pista de dança — tudo virtual —, um imitador da rainha Isabel II, uma aula de como fazer cocktails, e, ainda, comida e bebida (real), entregue aos 200 convidados da festa – os colaboradores, presos em casa. “Embora estivesse sentada sozinha na minha sala, senti realmente que estava na festa”, declara Gehrke, que chefia a filial sueca da companhia de seguros online para animais de estimação, Bought By Many.

Gehrke experimentou tudo o que a festa tinha para oferecer, mas afirma que o ponto alto foi conseguir saber um bisbilhotice na privacidade de uma casa de banho virtual – onde, à distância de um clique de rato, ela podia abandonar a pista de dança com um grupo selecto de amigos. A trabalhadora de fintech assume que o evento foi um dos melhores encontros sociais de trabalho em que já esteve, embora acrescente que o que faltava era estar mesmo fisicamente com os colegas.

À medida que os hábitos laborais mudam, é esperado que o mercado mundial de eventos virtuais cresça de 100 mil milhões de dólares, em 2020, para 400 mil milhões, em 2027, segundo dados da consultora norte-americana que faz o relatório anual com o mesmo nome, o Grand View Research.

“Eventos sociais estão aqui para ficar, mas combinados com eventos presenciais”, defende Rachel Haines, directora de organização e desenvolvimento na empresa sueca Klarna. “Afinal de contas, prefiro fazer ioga no terraço da nossa sede do que na minha sala de estar.”

Durante este período da pandemia, a empresa tem feito da socialização virtual uma parte integrante da sua cultura interna. “Vários dos nossos funcionários são jovens e vivem sozinhos”, informa Haines. “Eventos sociais online são muito importantes e nós temos promovido várias iniciativas para ter a certeza de que as pessoas continuam ligadas”.

Estas iniciativas incluem bebidas virtuais à sexta-feira, cookalongs (workshops em que se cozinha ao mesmo tempo que o formador, neste caso, à distância) durante a semana, à noite, e ioga matinal. A Klarna até já fez uma actividade de team-building, em que os trabalhadores tiveram de resolver enigmas para sair de uma escape room virtual.

“Uma dúzia de caras chocadas”

A experiência de teletrabalho tem sido tão bem-sucedida em certos sectores, como o financeiro, que várias pessoas não têm vontade de reverter esta tendência. De acordo com a consultora KPMG, em Inglaterra, metade dos trabalhadores do sector das finanças não querem voltar ao escritório, após o fim da pandemia.  

Edward Pollar, director de operações da organizadora de eventos Hire Space, afirma que o aumento da procurar de eventos online, durante a pandemia, obrigou a sua companhia a inovar. “Agora, os clientes pedem-nos de tudo, desde corridas de cavalo online até aulas de culinária e eventos de networking”, enumera.

No entanto, nem todos os trabalhadores estão confortáveis com este novo normal. “Eu fui o centro das atenções quando cantei um verso a solo no nosso concerto de Natal”, recorda Jake, que trabalha numa organização não governamental, em Londres. Depois de cantar algumas notas muito desafinadas, desligou a câmara do computador e fingiu que a Internet tinha ido abaixo. “O mal estava feito. Só me lembro de uma dúzia de caras chocadas numa grelha estendida pelo meu ecrã.”

Sebastian Woods é outro exemplo. O funcionário de um empresa de aprendizagem automática, em Estocolmo, ficou um pouco desconfortável quando a sua mulher, que, tal como ele, está a trabalhar em casa, participou num evento social de trabalho de sexta-feira à noite. “Eu nem me conseguia concentrar no meu Excel, porque a minha mulher estava a fazer a dançar na mesa da cozinha.”

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