Agravamento da pandemia acelerou a queda do clima económico em Fevereiro

Confiança das empresas do comércio e serviços volta a cair. Indústria escapa ao sentimento de deterioração económica.

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Empresários dos serviços estão menos confiantes sobre a evolução da procura Rui Gaudêncio

Com o país de novo em confinamento por causa da nova vaga da pandemia, o indicador do clima económico das empresas agravou-se em Fevereiro, com a confiança dos empresários do comércio e dos serviços a recuar de forma acentuada nas últimas semanas.

Ao divulgar nesta quinta-feira os resultados dos inquéritos mensais de conjuntura, o Instituto Nacional de Estatística (INE) afirma que o clima económico baixou para um “nível próximo” daquele em que se encontrava em Julho do ano passado. Não está no patamar negativo de Abril e Maio, mas recuou para valores aproximados aos que se registaram imediatamente a seguir à primeira fase da pandemia.

“Em Fevereiro, verificaram-se diminuições acentuadas nos indicadores de confiança do Comércio e, em particular, dos Serviços, enquanto na Construção e Obras Públicas o indicador diminuiu ligeiramente. Em sentido oposto, o indicador de confiança da Indústria Transformadora aumentou no último mês”, refere o INE numa nota divulgada no seu site.

Os inquéritos às empresas foram realizados entre 1 e 19 de Fevereiro, apanhando o impacto dos encerramentos de estabelecimentos comerciais e serviços que se iniciara em meados de Janeiro.

Já o indicador de confiança dos consumidores, calculado a partir de inquéritos realizados entre 1 e 12 de Fevereiro, também diminui nesse mês, ao contrário do que acontecera em Dezembro e Janeiro.

“A evolução do último mês resultou sobretudo do contributo negativo das expectativas relativas à evolução futura da situação económica do país, tendo as perspectivas relativas à evolução futura da realização de compras importantes também contribuído negativamente. Por outro lado, as opiniões relativas à evolução passada da situação financeira do agregado familiar apresentaram um contributo nulo para a evolução do indicador, enquanto as expectativas relativas à evolução futura da situação financeira do agregado familiar contribuíram positivamente”, explica o INE.

Apesar de as expectativas sobre a situação económica do país terem piorado, o saldo das respostas sobre as “perspectivas relativas à evolução futura da situação financeira do agregado familiar aumentou em Fevereiro”.

No comércio, o indicador de confiança já tinha diminuído em Janeiro e voltou a baixar este mês tanto no comércio por grosso como no comércio a retalho, com os empresários a revelarem estar menos optimistas quanto ao volume de vendas “e, sobretudo, das perspectivas de actividade da empresa nos próximos três meses”. De forma positiva para o indicador geral contribuíram as apreciações dos empresários sobre o volume de stocks.

Nos serviços, o indicador de confiança tinha aumentado em Janeiro, mas não resistiu a uma inversão de trajectória em Fevereiro. Os empresários estão menos confiantes em relação à evolução da procura e das carteiras de encomendas.

O INE refere que a confiança baixou em seis dos oito ramos de actividade dos serviços alvo dos inquéritos, em particular no imobiliário, alojamento, restauração e nas actividades de informação e comunicação.

O sector da construção, que no ano passado conseguiu resistir melhor do que o conjunto da economia, aparece em queda nos mais recentes indicadores de confiança, depois de este índice ter melhorado em Dezembro e Janeiro.

Segundo o INE, que agrega nesta contagem a construção e obras públicas, “o agravamento no último mês reflectiu o contributo negativo das apreciações sobre a carteira de encomendas, tendo as perspectivas de emprego mantido um contributo positivo, embora ligeiramente menor que em Janeiro”.

A confiança dos empresários da indústria, pelo contrário, registou em Fevereiro uma melhoria, ao contrário do que acontecera em Janeiro. O “indicador aumentou no agrupamento de bens intermédios, diminuiu no agrupamento de bens de investimento e estabilizou no agrupamento de bens de consumo”, refere o INE, explicando que o aumento geral se deveu “ao contributo positivo das expectativas de produção da empresa”.

O indicador diário da actividade económica medida pelo Banco de Portugal mostra que na terceira semana de Fevereiro este índice “registou uma queda homóloga idêntica à observada na semana anterior”. O indicador agrega informação do “tráfego rodoviário de veículos comerciais pesados nas auto-estradas, consumo de electricidade e de gás natural, carga e correio desembarcados nos aeroportos nacionais e compras efectuadas com cartões em Portugal por residentes e não residentes”.

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