Centenário da sambista Dona Ivone Lara celebrado com “baú” de inéditos

Os 100 do nascimento da cantora e compositora brasileira Dona Ivone Lara (1921-2018) estão a ser celebrados com a divulgação de um disco raro acrescido de vários inéditos.

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Dona Ivone Lara na capa do seu disco disco de estreia, em 1978 DR

O disco chama-se Baú da Dona Ivone e nunca teve distribuição comercial. Foi lançado no Brasil em 2012 pela prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, com fins exclusivamente educacionais, e só foi distribuído por escolas e bibliotecas municipais. Mas em 2020, com o intuito de celebrar os 100 anos de Dona Ivone Lara, figura lendária do samba carioca que morreu em 2018, aos 97 anos, a editora brasileira Radar Records resolveu começar a divulgar online todas as faixas desse disco, acrescidas de vários inéditos.

Aliás, o disco em si já era constituído por inéditos. Idealizado por Bruno Castro, músico e parceiro de Dona Ivone Lara por mais de duas décadas, registou em vozes alheias 12 canções compostas por ela que até aí permaneciam por editar. A Radar Records dividiu o disco em quatro EP, lançando-os de forma faseada. E foi em Outubro de 2020 que lançou o primeiro, com três delas: Não é miragem, na voz de Beth Carvalho; Não me maltrata, cantada por Sombrinha; e Adeus ao senhor da razão, por Áurea Martins.

Em Dezembro de 2020 foi lançado o segundo, desta vez com quatro temas, entregues a interpretações de outros grandes nomes do samba: Sombras na parede, por Monarco, da Velha Guarda da Portela; Vento da tarde, por Nelson Sargento, da Estação Primeira de Mangueira; Vai, por Delcio Carvalho, co-autor da canção e parceiro de Dona Ivone Lara em muitos sambas; e Outra vez, por Nei Lopes, este ligado às escolas de samba de Vila Isabel e Acadêmicos do Salgueiro, e também aqui co-autor do tema que lhe coube.

O terceiro EP foi publicado já em 2021, neste mês de Fevereiro, e abre com um dueto de Caetano Veloso e Maria Bethânia em Dia de samba no Bonfim. Segue-se um outro dueto, este de Diogo Nogueira com Bruno Castro em Império e Portela; e três temas com interpretações individuais: O preá/Luta imperiana, por André Lara; A menina e o tempo, por Luiza Dionízio; e, a fechar, À procura da felicidade, por Juninho Thybau.

O quarto EP, a publicar em Abril de 2021 (mês em que a cantora e compositora completaria 100 anos, no dia 13), fecha a série e será composto por temas que não constavam do disco e que até agora permanecem inéditos: um dueto de Dona Ivone Lara com Gilberto Gil e outro de Dudu Nobre com Pretinho da Serrinha; e canções entregues às vozes de Maria Rita, Xandy de Pilares e do grupo Fundo de Quintal.

Nascida Yvonne Lara da Costa em 13 de Abril de 1921, em Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro, ganhou o “Dona” como sinal da reverência que lhes prestaram, ao longo de décadas, músicos e compositores, uma reverência que contagiou todo o Brasil. Filha de uma cantora e de um violonista (que haviam de lhe morrer cedo, ele aos 3 anos e ela aos 12), foi criada pelos tios, “com quem aprendeu a tocar cavaquinho e a ouvir samba”, como reza a sua biografia. Teve também, por essa altura, aulas de canto com Lucília Villa-Lobos, mulher de Heitor Villa-Lobos, compositor que lhe elogiava o canto.

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Capa do disco Samba, Minha Verdade, Samba, Minha Raiz (1978)

O seu disco de estreia, Samba, Minha Verdade, Samba, Minha Raiz (1978), produzido por Adelzon Alves, surgiu já numa fase tardia, ia ela já a caminho dos 60 anos. Mas haveria de gravar muitos outros, cantando até praticamente ao final da sua vida. Que foi retratada num livro, publicado quando se celebravam no Brasil os seus 95 anos: Dona Ivone Lara – A Primeira Dama do Samba (2015), do jornalista Lucas Nobile, que foi consultor do projecto Ocupação Dona Ivone Lara, do Instituto Itaú Cultural.

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