Todo o cinema de Sarah Maldoror que se pode ver no próximo IndieLisboa

A retrospectiva “quase integral” promete inéditos recentemente descobertos da realizadora que foi testemunha activa das lutas de libertação anti-coloniais, sobretudo em Angola.

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Sarah Maldoror em Paris, em 1970 CORTESIA FUNDAÇÃO MÁRIO SOARES/ARQUIVO MÁRIO PINTO DE ANDRADE

O cinema de Sarah Maldoror, que nasceu em França em 1929 e morreu no ano passado vítima de covid-19, é um dos focos da 18.ª edição do IndieLisboa, que decorre entre 29 de Abril e 9 de Maio. Em parceria com a Cinemateca, o festival de cinema lisboeta vai mostrar tudo o que se consegue encontrar da cineasta de Sambizanga, o filme de 1972 sobre os movimentos de libertação de Angola em pela guerra colonial. No comunicado do festival, pode ler-se que “alguns dos seus filmes permanecem ainda por localizar”, pelo que será uma retrospectiva “quase integral”. Esta homenagem contará com a presença de Annouchka de Andrade, uma das filhas de Maldoror.

Sarah Maldoror nasceu com o apelido Durados, filha de um pai da ilha Guadalupe e uma mãe francesa. Foi buscar o “Maldoror” à poesia de Lautréaumont. Começou no teatro nos anos 1950, fundando a companhia Les Griots, a primeira em França a ter um elenco completamente negro. Inspirada por Sergei Einstein e o seu Couraçado Potemkin, Maldoror virou-se para o cinema, tendo rumado a Moscovo para estudar cinema no início dos anos 1960, junto com o seu marido, o poeta angolano, fundador do MPLA e argumentista Mário Pinto de Andrade (1928-1990), com quem colaborou. Ainda nessa década, foi assistente de realização em A Batalha de Argel de Gillo Pontecorvo, tendo a própria Maldoror passado tempo nas lutas de libertação da Argélia, antes de começar a realizar em nome próprio.

Foi durante os estudos que conheceu Ousmane Sembène, o realizador senegalense de La noire de... que foi alvo de homenagem do festival no ano passado. O foco em Maldoror, aliás, continua uma tendência recente na exibição, restauro e distribuição em que se olha para filmografias que por vezes foram postas fora das listas canónicas, com destaque especial para o cinema africano.

A carreira da cineasta, muito marcada pela sua dimensão política de esquerda, começa com Monangambé, curta de 1968 passada também em Angola que adaptava uma novela de Luandino Vieira e mostrava a brutalidade da colonização portuguesa em África, e inclui documentários sobre grandes figuras da negritude como Aimé Césaire, Léon-Gontran Damas ou Toto Bissainthe, bem como artistas como Ana Mercedes Hoyo, Vlady ou Miró. A sua primeira longa, Des fusils pour Banta, de 1971, é há muito considerado um filme perdido. 

Ainda não se sabe a lista completa de obras de Maldoror que serão exibidas, mas o comunicado avança que alguns filmes são “totalmente inéditos, cujo paradeiro foi recentemente descoberto”. Haverá também espaço para ver as colaborações da cineasta com o já mencionado Pontecorvo, mas também com Chris Marker, que rodou Sans Soleil, de 1983, em Angola, e William Klein, em cujo The Pan-African Festival of Algiers, de 1969, Maldoror foi assistente.

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