Os cristãos-novos e os seus benfiquistas de bem

Há muito que o futebol importou o pior que a política tinha para oferecer. Muitas vezes os governos gostam de se confundir com o Estado. No futebol são os dirigentes que gostam de se confundir com os clubes. Uma crítica ao dirigente é uma crítica ao clube. Uma apreciação à política seguida é anti-benfiquismo. Estamos quase nos “benfiquistas de bem”.

Escrevo estas linhas a propósito do Benfica e dos comentários recentes de alguns dos seus dirigentes nomeadamente José Eduardo Moniz, mas estamos longe de ser inovadores nesta matéria.

O Sporting passou pela mesma coisa com Bruno de Carvalho. Houve tempos em que tudo era culpa da oposição interna. Má política desportiva? A culpa é da oposição interna. Más contratações? A culpa é da oposição interna. A bola bateu no poste, o árbitro não viu a falta, perdemos a cabeça numa conferência de imprensa? A culpa é da oposição interna. Temos a certeza de que as coisas não estão bem quando “a culpa é da oposição interna”.

Como em tudo o resto, também no futebol os cristãos-novos são os “piores”. Os mais ortodoxos. Mais “papistas que o Papa” - para utilizar a feliz expressão.

Tenho todo o respeito pelos recém-convertidos. Não há um tempo ou idade para descobrir o “benfiquismo”. Nem sou daqueles que discrimina benfiquistas em função de serem mais novos ou mais velhos. São todos bem-vindos. E até percebo esta necessidade de mostrar ao chefe a sua mais-valia. Percebo tudo, mas, como vimos no caso do Sporting, é um caminho perigoso e sem final feliz. E isso preocupa-me. Porque enquanto sócio e apoiante de João Noronha Lopes, nas últimas eleições, nada me faria mais feliz que o sucesso desta direcção. O sucesso da direcção significa o sucesso do clube e isso é tudo o que um benfiquista pode desejar e o melhor serviço que podem prestar a milhões de adeptos. Por uma razão simples: os clubes não pertencem aos seus dirigentes. Pertencem aos sócios. Ser dirigente é estatuto temporário não é certificado de propriedade. Para cristão-novo ou para cristão velho.

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