Dois mortos no dia mais violento de protestos na Birmânia

Polícia disparou para dispersar manifestantes na cidade de Mandalay.

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Voluntários levam feridos na repressão da manifestação em Mandalay KAUNG ZAW HEIN/EPA
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Reuters

A repressão de uma manifestação na segunda maior cidade da Birmânia, Mandalay, fez dois mortos. Há duas semanas que manifestantes em vários locais do país protestam contra o golpe militar que afastou a líder de facto, Aung San Suu Kyi, e pedem o seu regresso.

Tem havido violência esporádica e, na sexta-feira, morreu a primeira manifestante atingida a tiro pela polícia, depois de dez dias nos cuidados intensivos.

Vários observadores têm repetido o receio de uma repressão violenta dos protestos, como os militares já fizeram outras vezes durante os seus quase 50 anos no poder. O golpe de 1 de Fevereiro marcou o fim de um processo, iniciado em 2011, de transição para um poder civil.

Em Mandalay, a manifestação incluía também trabalhadores dos estaleiros navais do porto, que se juntaram à campanha de desobediência civil que tenta paralisar funções chave no país. A agência Reuters relata que alguns manifestantes lançaram projécteis de catapultas contra a polícia, enquanto fugiam por ruas ao longo do rio. A polícia respondeu com gás lacrimogéneo e disparos, e não era claro se se tratava de balas de borracha ou de munições reais.

“Houve 20 feridos e dois mortos”, disse Ko Aung, do serviço de emergência de voluntários Parahita Darhi. Um homem morreu de uma ferida na cabeça e outro foi vítima de um disparo no peito.

Os protestos não dão sinais de abrandar, mesmo depois de o Exército ter deslocado tanques para as ruas e de ter ameaçado penas de prisão para quem dificulte a acção dos militares, e parecem juntar grupos cada vez mais diversos: monges budistas, celebridades, professores e estudantes, e trabalhadores de diversos sectores, dos caminhos-de-ferro aos bancos.

Os manifestantes não acreditam na promessa do Exército levar a cabo eleições em breve – o motivo alegado para o golpe é a existência de fraude nas eleições de Novembro, que deram maioria absoluta ao partido de Suu Kyi.

Os militares detiveram ainda centenas de pessoas: 546, das quais 46 foram entretanto libertadas, segundo a Associação para os Presos Políticos.

Ainda este sábado houve várias acções de homenagem à primeira manifestante que morreu, Mya Thwate Thwate Khaing, que acabara de fazer 20 anos enquanto estava nos cuidados intensivos, depois de ter sido atingida com uma bala na cabeça disparada por um polícia, confirmou a Amnistia Internacional depois de analisar filmagens da manifestação.

“A tristeza pela sua morte é uma coisa, mas temos também de ter coragem para continuar também por ela”, disse outra manifestante, Khin Maw Maw Oo, na capital, Naypyitaw.

Os manifestantes já não pedem só a libertação de Suu Kyi e o regresso do governo eleito, mas também uma mudança na constituição de 2008 que mantém para o exército uma importante posição mesmo depois de deixar de estar, de forma directa, no poder. 

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