Há 42 mil anos, os pólos magnéticos da Terra inverteram-se. E a história ambiental mudou

Antigas árvores conhecidas como kauris registam o último colapso do campo magnético do planeta, diz estudo publicado na Science. Evento produziu tempestades eléctricas, auroras generalizadas e radiação cósmica.

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Esta antiga árvore kauri, com 42 mil anos, ajudou a conhecer melhor a história do planeta JONATHAN PALMER

A história da Terra terá sofrido um ponto de inflexão há 42 mil anos, quando uma inversão dos pólos magnéticos provocou uma ruptura do campo magnético, que causou importantes alterações ambientais e extinções maciças, segundo um estudo divulgado na sexta-feira.

A investigação da Universidade australiana de Nova Gales do Sul e do Museu da Austrália Meridional, publicada na revista Science, assinala que aquele evento foi provocado por uma inversão dos pólos magnéticos da Terra, combinada com a mudança dos ventos solares, o que produziu tempestades eléctricas, auroras generalizadas e radiação cósmica.

“Aos primeiros seres humanos que tiveram de viver aquele momento deve ter-lhes parecido ‘o fim dos dias’”, considerou um dos autores, Alan Cooper, do Museu da Austrália Meridional.

Os investigadores, que baptizaram este período como Evento Adams, sugerem que poderá explicar mistérios evolutivos, como a extinção dos neandertais ou o repentino surgimento de arte figurativa em grutas de todo o mundo, considerando que os humanos tiveram de procurar novos refúgios.

Apesar de os cientistas já saberem que os pólos magnéticos mudaram há cerca de 41 mil/42 mil anos (o que se conhece como Evento de Laschamps), não sabiam exactamente se afectara a vida na Terra e como o fizera.

O co-autor do estudo Chris Turney, da universidade de Nova Gales do Sul, sublinhou que a investigação possibilitou datar pela primeira vez “com precisão” o momento e os impactos ambientais da última alteração dos pólos magnéticos”.

As antigas árvores conhecidas como kauris (Agathis australis) pelos maoris da Nova Zelândia, que se conservaram em sedimentos durante mais de 40 mil anos, deram as pistas aos investigadores, que, através dos anéis de crescimento, puderam medir e datar o pico dos níveis de radiocarbono atmosférico causado pelo colapso magnético e criaram uma escala do tempo detalhada de como mudou a atmosfera.

Os investigadores compararam essa escala do tempo com registos de lugares de todo o Pacífico e elaboraram modelos climáticos globais para descobrirem que o crescimento das camadas de gelo e dos glaciares da América do Norte e as grandes alterações nos ventos e sistemas de tempestades tropicais podem remontar ao Evento Adams.

Uma das primeiras pistas foi a que indica que a megafauna da Austrália continental e da Tasmânia sofreu uma extinção simultânea há 42 mil anos.

Os pólos magnéticos da Terra têm uma deslocação natural, mas, por vezes, por razões que não são claras, esses movimentos podem ser mais drásticos e há cerca de 42 mil anos mudaram completamente de lugar.

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