Covid-19. Lar de Évora regista 12 infecções após vacinação. Doentes estão assintomáticos

Passados 17 dias após a 2.ª dose da vacina, foram detectados 12 casos de infecção. OMS alertou para a possibilidade de vacinados transmitirem o vírus.

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Casos de infecção foram detectados em utentes Daniel Rocha/Arquivo

Quem está vacinado contra a covid-19 pode carregar o vírus e transmiti-lo a outras pessoas: o alerta tinha sido deixado há uma semana pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mas a situação no lar Recolhimento Ramalho Barahona, em Évora, é exemplo vivo deste aviso. Passados 17 dias após a administração da segunda dose a utentes e funcionários, foram detectados 12 casos de infecção no lar, estrutura que alberga 140 pessoas. Todos os casos de infecção foram identificados em utentes, que se mantêm assintomáticos.

“Por precaução, a autoridade de saúde determinou que os casos positivos fossem isolados para uma estrutura externa”, começa por dizer o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Évora, Francisco Lopes Figueira, ao PÚBLICO. 

Após receber a notificação do primeiro caso de infecção, a instituição realizou uma bateria de testes na esperança de controlar um eventual surto: 126 testes rápidos e 229 testes PCR depois, detectaram-se mais 11 utentes infectados.

Mais do que a propagação do vírus, a grande dúvida prende-se com a entrada do vírus no lar. “Essa é a grande questão que ainda não conseguimos esclarecer. Em princípio, devia ter sido de um colaborador, mas ainda não o conseguimos ‘apanhar’. Tentámos ‘pecar’ um bocadinho por excesso [nos testes realizados], mas o que é um facto é que ainda não o detectamos. Mas é a única explicação racional para a infecção. A senhora não foi ao hospital, não teve visitas, nada”, explica Francisco Lopes Figueira.

O provedor da Santa Casa de Évora não esconde alguma surpresa com os novos casos, considerando especialmente que o lar Recolhimento Ramalho Barahona tinha passado incólume à pandemia até agora, não registando qualquer caso de infecção em utentes até este ponto. “Esta doença é uma novidade para todos nós. Sendo uma novidade – e depois da toma da vacina –, é natural a primeira reacção dos colaboradores mais próximos tenha sido de alguma surpresa e receio. Agora, interpretando melhor, compreendem que as pessoas, mesmo vacinadas, têm possibilidade de contrair a doença e de a poder transmitir”, relata o provedor.

Esta foi exactamente a mesma mensagem passada pela cientista-chefe da Organização Mundial da Saúde, Soumya Swaminathan, numa videoconferência onde se discutiu a vacinação contra a covid-19. De acordo com a especialista, os dados mostram que a vacina protege contra os sintomas mais graves da doença, reduzindo a carga viral. Contudo, existe a possibilidade de o vírus continuar a ser transmitido, algo que obriga à manutenção dos cuidados de segurança e higienização.

“É claro que [a vacina] protege quanto à doença grave. Se protegerá totalmente contra a infecção, isso não é claro. Pode reduzir a gravidade da infecção: há relatos de que quem está vacinado, se ficar infectado, a carga viral será menor. Por isso, a hipótese de infectar os outros é menor. Mas até sabermos mais sobre isto, é importante que as pessoas – mesmo depois da vacinação –, mantenham as precauções, usem máscara, lavem as mãos, mantenham o distanciamento social. Mesmo tendo uma infecção assintomática não ficará doente — porque tomou a vacina — mas pode transportar o vírus no nariz e transmiti-lo para outros”, explicou Soumya Swaminathan.

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